Legislativas'22 - ENTREVISTA A ANTÓNIO MENDONÇA (CDS)

"O apoio a quem mais precisa deve ter em atenção a família"

Publicado por António G. Rodrigues em Qui, 2022-01-27 11:57

António Mendonça, natural de Macedo de Cavaleiros, é o cabeça de lista do CDS.

Mensageiro de Bragança: Porque decidiu candidatar-se?
António Mendonça:
Decidi candidatar-me porque acredito na intemporalidade dos princípios da Democracia Cristã, que constituem a base programática fundamental do CDS e, mais do que nunca, é necessário salientá-los e defendê-los. O CDS é o único partido que defende esses valores, em especial a doutrina social da Igreja, o valor da vida e da família. O apoio a quem mais precisa deve ter em atenção a família, já que cuidando dessa célula base da sociedade , estamos a apoiar eficazmente cada um de nós. Por fim porque julgo que tenho uma mensagem para transmitir: a defesa da identidade de Trás os Montes e Alto Douro.

MB.: Que diagnóstico traça do distrito de Bragança atualmente?
AM.:
O distrito perdeu quase dez por cento da população na última década; somos agora os mesmos que em 1846. Só que muito mais velhos, gastos e descrentes e continuamos no último escalão de rendimento de Portugal. Continuamos a depender da agricultura e dos serviços públicos. Faltam médicos, faltam apoios técnicos à lavoura. Falta um projecto que dê animo e esperança. A CCDR do Norte deveria promover a coesão territorial: mas  agravou as assimetrias, já que o nosso distrito está mais longe da restante chamada zona Norte. A falta de eficácia da política de coesão territorial e o desaparecimento de inúmeros serviços públicos que prendiam famílias e técnicos qualificados contribuiu em grande parte para o acelerar da desertificação a que se assiste. É fundamental combater o desânimo e devolver a esperança.

MB.: Que medidas considera prioritárias tomar para o distrito de Bragança caso seja eleito?
AM.:
O CDS opõe-se à regionalização; é favorável à descentralização.
A actual divisão entre o estado central e as autarquias concelhias (freguesias incluídas ) falhou. É necessário sarar as feridas que a rejeição categórica da regionalização no referendo realizado trouxe ao debate. Esse chumbo tem impedido o aperfeiçoar de formas de descentralização que tragam a resolução dos problemas para a esfera local.
A medida prioritária que proporíamos seria a promoção da identidade de Trás os Montes e Alto Douro, propugnando por uma articulação entre as comunidades de Alto Tâmega, Terras de Trás os Montes e Douro na definição de um projecto de desenvolvimento assente nas especificidades da região e apontado ao futuro. Que fizesse os transmontanos acreditar e ter esperança no amanhã. É a eles que cabe traçar as linhas do desenvolvimento.
O ensino, não só dos mais novos, mas a formação contínua dos que já trabalham, é  o garante da melhoria das condições de vida na região. Tem de ser pensado face às circunstâncias da distância em que os alunos se encontram, criando alternativas inovadoras que asseguram a aprendizagem e o desenvolvimento saudável da personalidade dos alunos; mas essa ponderação e busca de soluções tem de ser encontrada aqui, com a colaboração das Universidades , Institutos , Escolas ,Autarquias e Associações de Pais. Só localmente se podem resolver os problemas específicos desta zona.
Em seguida garantir todo o apoio à agricultura, vector fundamental da economia na região, articulando esse sector com o desenvolvimento do turismo de natureza, conforme desenvolvemos a seguir.
Por fim é indispensável assegurar um óptimo serviço de internet em toda a região; o futuro em todas as suas vertentes depende desse meio e tem de estar assegurado.
Resumindo têm de ser os transmontanos que aqui vivem e trabalham a tomar nas suas mãos o seu destino; todos temos conhecimento do abandono , por acção e omissão , a que os sucessivos governos nos conduziram. Agora é que vai ser diferente? Continuamos a acreditar que agora é que tudo vai melhorar?

MB.: O que considera fundamental mudar para melhorar a agricultura e a vida dos agricultores do distrito de Bragança?
AM.:
A agricultura está numa fase de mudança e é preciso apoiar essa transformação, auxiliando os lavradores nesses caminhos. Os custos de produção aumentam assustadoramente, os preços de venda dos produtos estagnam. Há que reduzir os custos naquilo que depende do Estado (fundamentalmente o valor dos combustíveis) e aumentar o valor dos nossos produtos.
Aumentar esse valor só pode ser conseguido, em associação, pela conjugação de esforços das associações e organizações dos agricultores, cooperativas , industriais de transformação dos produtos agrícolas;  e , para tal, contar com o apoio do IPB, da UTAD, das Escolas Técnicas, das Escolas Secundárias das Autarquias Locais. Só a união de esforços de todas as entidades poderão traçar os caminhos do futuro dando um rumo aos agricultores.
Há que promover o aumento da produtividade nas explorações agrícolas, a procura incessante do aumento da qualidade desses produtos, a sua transformação na região e uma comercialização organizada, que traga escala e força à negociação na venda,. Disto depende o futuro da agricultura.
E estruturalmente há que resolver dois enormes obstáculos ao desenvolvimento: a falta de água para regadio consciente e responsável e o apoio público ao emparcelamento, dada a  reduzida dimensão das explorações agrícolas que se tem vindo a agravar.
Por fim, sabendo-se que há vários caminhos, julgo que o futuro privilegiará uma agricultura amiga do ambiente, sustentável, com o respeito da biodiversidade e do equilíbrio da natureza; esta vertente desenvolverá uma vertente de turismo de natureza que auxiliará o aumento de receitas na região.
Há que conquistar os agricultores para o associativismo; todos sabemos que com trabalho conjunto e dedicação,  é possível. Há que trabalhar.

MB.: Como viu o negócio da venda das barragens da EDP? Considera que tudo foi feito para defender os interesses dos transmontanos?
AM.:
O negócio das barragens demonstra que há interesses não transparentes na governação pública. O valor dos impostos que não foram cobrados por razões que, verdadeiramente, desconhecemos, tem de  ser investido na região.

MB.: O que pensa da regionalização? Considera que deveria ser discutida na próxima legislatura?
AM.:
O CDS é contra a regionalização; é a favor da descentralização com transferência de competências e dos meios adequados paras as autarquias e da instalação no distrito de serviços que fomos perdendo. Pessoalmente defenderia a separação de Trás os Montes e Alto Douro da CCDR Norte.

MB.: Ao nível da saúde dos transmontanos, o que mais o preocupa?
AM.:
Na saúde , é fundamental uma gestão articulada dos recursos disponíveis. Por outro lado é urgente garantir, em cada concelho, um atendimento médico permanente , com meios para um rápido encaminhamento hospitalar quando necessário. Menos população não pode significar ausência de atendimento. Finalmente dar liberdade aos transmontanos a liberdade de fazer sem custos, no sector social ou privado, os exames, consultas ou cirurgias que o Estado não proporciona em tempo razoável.

MB.: Para sair da crise económica que adveio da pandemia, que medidas considera prioritárias para a região?
AM.:
A definição a nível de Trás os Montes e Alto Douro de um projecto de desenvolvimento, com especial atenção na agricultura (produção , industrialização e comercialização dos produtos). Garantir  o apoio técnico e aconselhamento permanente aos agricultores. Apoiar eficazmente o sector da transformação dos produtos. Definir as linhas de implementação do turismo natureza e criar estímulos ao seu desenvolvimento. Apoiar eficazmente a contratação no sector agrícola com a redução significativa da TSU e isentar os trabalhadores desse pagamento.

 

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