Primeiras Jornadas Cidadãs lançaram alertas sobre a defesa do território e perigos das minas

Nem tudo o que reluz é ouro foi um dos alertas deixados nas I Jornadas Cidadãs, que decorreram sábado, em Vinhais, e juntaram cerca de 80 pessoas num debate sobre o território, as diferentes formas de agressão e maneiras de resistir.
A iniciativa, organizada em conjunto pelas associações Uivo, Palombar e Tarabelo, juntou especialistas e agentes do território, cidadãos comuns, em defesa da mesma causa.
“O objetivo essencial foi colocar o tema da mineração em cima da mesa, em debate. Não tínhamos a expectativa de com isto chegar a conclusões mas interessa-nos envolver toda a gente no assunto”, explicou Daniel Vale, da organização.
O assunto da mineração foi um dos focos da discussão ao longo do dia, devido aos recentes pedidos de licença de prospeção nos concelhos de Bragança e Vinhais.
“Aquilo que percebemos no período de consulta pública e das sessões de esclarecimento é que muita gente não estava consciente do que estava a acontecer. Tivemos dificuldades em mobilizar pessoas para as sessões de esclarecimento e para a participação. Mas, sobretudo aquando do pedido de Valongo 2, um bocadinho depois do de Revelhe, através de grupos de watsapp, com pessoas que não estão cá, conseguimos uma participação muito grande online, na fase de participação pública. As sessões públicas também foram mais participadas mas as pessoas ainda mostravam muito desconhecimento sobre os riscos do que poderia acontecer.
Por outro lado, na Associação Uivo temos vindo a fazer uma série de ações, com participação nas Assembleias Municipais, na Assembleia da República, fizemos uma caminhada. Trouxemos para o debate uma série de pessoas que conhecem melhor o território e ajudam-nos a nós próprios a posicionar-nos, para além de funcionar como um alerta”, explicou Daniel Vale.
Ao longo do dia decorreram quatro painéis de discussão, com intervenientes portugueses e espanhóis, que recordaram, também, a luta contra a instalação de minas na região fronteiriça de Calabor.
Já de Montalegre, da aldeia de Covas do Barroso, vieram representantes dos baldios, que contaram as dificuldades que estão a sentir contra o projeto mineiro do lítio.
“Em 2006 assinámos um contrato para a exploração de uma pedreira de quartzo e feldspato, numa área de 120 hectares, com uma área de exploração de 16 hectares.
Em 2016, o Estado fez uma adenda a esse contrato, que passou de 120 para 560 hectares e foi adicionado o lítio. Neste momento, a empresa, para poder dar continuidade ao projeto tem de ter um estudo de impacto ambiental, uma licença ambiental e tem de ter um contrato connosco. Como nós não aceitamos o projeto, eles só conseguiram entrar nos terrenos com uma servidão administrativa do Estado e, neste momento, já estão a partir para a expropriação, porque as pessoas não aceitam o projeto”, contou Aida Fernandes, daquela associação de compartes.
“Não sou ambientalista, sou agricultora. Toda a vida vivi lá”, frisou.
Agircultora e produtora de gado, contou que se sentiu enganada pela empresa Savannah. “Só está a favor do projeto quem está a trabalhar para a empresa. Aos baldios já nos foram apresentadas duas propostas para arrendamento cujo valor, depois de esmiuçado, é exatamente igual ao que já estamos a receber desde 2006.
Como a área é muito grande, falam em milhões. Mas as contas são sempre de forma hipotética. Falam na possibilidade de dez milhões de euros mas em 16 anos e mediante o que vão lá explorar. Pode não ser receber nada”, disse.
“Dizem que somos radicais, que somos uma minoria. Mas quando temos uma assembleia de compartes em que os presentes são unanimemente contra, está tudo dito.
E defendemos o direito de podermos dizer que não. Eles não querem negociar, querem é que aceitemos o projeto. Mas achamos que não é o que precisamos para a nossa região”, concluiu Aida Fernandes.