Diocese

Senhora da Serra ainda afetada pela pandemia mas já a aproximar-se da normalidade

Publicado por António G. Rodrigues em Qui, 2021-09-02 11:37

Subir ao alto da serra da Nogueira e rezar à Virgem é já um ritual que marca o final do verão no Nordeste Transmontano. O dia da Senhora da Serra, a 08 de setembro, marca a data no calendário dos lavradores a partir da qual deixa de se fazer a sesta da tarde. Afinal, os dias já encolheram o suficiente para aguentar até à noite.

Com a pandemia de covid-19 ainda ativa, pelo segundo ano consecutivo as tabernas e os quartéis, que por esta altura acolhiam milhates de fiéis, encontram-se fechados outra vez.

“Geralmente venho todos os anos. Ficava cá aquartelado mas este já é o segundo ano em que não fico, devido à pandemia”, explicava ao Mensageiro Raúl Tomé, de Portela.

‘Diferente’ é a palavra de ordem que por estes dias se ouve no alto da serra. “Por causa disto, é tudo diferente. Não pode haver convívios, não pode haver nada. Vimos pela devoção porque, a festa, ao fim e ao cabo, é pela metade”, sublinhou.

“Aquartelamento? Sempre era mais uma distração e criavam-se amizades. Tendo cá o quarto, vinha todos os dias. Não tendo cá o quarto, é mais complicado”, concluiu Raúl Tomé.

Dinis Rocha, encostado ao muro do adro, vem todos os anos de Cabanas, ali quase ao lado. E como é “já ali” - aponta -, nunca precisou de quarto. “Venho todos os anos mas este ano é uma tristeza. Nem a santinha sai, praticamente. Pelo menos dentro, há menos gente. Ao menos conseguimos vê-la”, diz, em jeito de lamento, com a voz embargada pela emoção.

“O que conta é a fé, não há vírus que a afete”, garante.

Doente, ainda abalado pela morte recente da esposa, faz questão de subir ao alto “todos os dias”.

“A minha esposa morreu há pouco tempo mas a fé é grande. Venho cá muitas vezes, ponho aí flores à entrada da porta”, conta.

Um pouco mais ao lado, sentados num dos bancos que por ali se encontram, Henrique e Isaura Gonçalves esperam pelo início da novena. Emigrados em França, vinham todos os anos de férias nesta altura até à terra, Rebordãos, para não perder a Senhora da Serra. Até que apareceu a ‘maldita pandemia’.

“No ano passado não viemos mas, normalmente, vimos todos os anos. Diferente, é tudo. Não há ambiente, não há nada”, lamenta Henrique.

“A fé é igual, é por isso que uma pessoa vem cá. As tabernas também atraíam muita gente. Temos de nos habituar a isto”, diz, para logo de seguida atirar a revolta que não o deixa habituar. “Não acho justo que em Fátima possam estar 15 mil pessoas e aqui não podem estar 200 ou 300. Na festa do Avante também não há o covid. Custa a compreender”, frisa.

Em estreia está o Pe. Vítor Ramos. É um dos pregadores deste ano. Veio do Porto e é a primeira vez que subiu “a este belo santuário”.

Aos fiéis, garante que vai transmitir uma mensagem de esperança.

“Em tempo de pandemia, a mensagem que Nossa Senhora quer passar aos seus devotos nesta romaria é uma mensagem de esperança, de que já estamos numa fase de desconfinamento, temos confiança no futuro e, acima de tudo, como crentes, com esperança nesse novo tempo que vem aí, que seja de renascimento, de retomar a nossa vida espiritual. As pessoas também têm saudades das suas festas, das suas romarias, das suas peregrinações.

Muitas não vão participar por medo”, sustenta.

Mas, para evitar medos e receios, a organização preparou uma série de medidas preventivas.

Desde logo, reduziu as celebrações e voltou a cortar a lotação dentro da igreja para metade (105 lugares). “Vai funcionar como no ano passado. As tabernas e os quartos estão fechados. A nível de igreja, vai funcionar com as normas da diocese, com limitação de lugares e higienização do espaço sempre que muda de oração e com entrada controlada e higienização das mãos. Há uma redução das orações. Num ano sem pandemia começam às 9h00 e, agora, começam às 11h00, com eucaristia. Temos o terço às 15h00, confissões e a novena às 17h00. Não há oração da noite.

Este ano, em vez de a procissão sair só à volta do adro, vamos tentar fazer a procissão normal mas sem que as pessoas acompanhem a imagem, ficando nos seus lugares.

E temos transmissão de todas as celebrações pela nossa página do facebook”, explicou Carla Pires, da Confraria.
No dia 08, a eucaristia será presidida por D. Américo Aguiar.

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