A opinião de ...

Aljubarrota ou a Consolidação da Nacionalidade!

Se D. Afonso Henriques funda o Estado no século XII e D. Dinis o delimita em 1297 com o Tratado de Alcañices, D. João I e D. Nun’Álvares consolidam a Nação e abrem portas para a Portugalidade.
«Um fraco rei faz fraca a forte gente», como bem refere Luís de Camões. Depois de se ter envolvido e perdido três guerras contra Castela, entre 1369 e 1381, o rei D. Fernando morre dois anos depois sem acautelar a sucessão de acordo com os interesses nacionais. Com a herdeira D. Beatriz casada com o rei de Castela Juan I, estava aberta a possibilidade da união dinástica entre os dois reinos peninsulares. Assim, enquanto este organizava as tropas para invadir Portugal e reclamar o direito sucessórios da mulher, na Lusa Pátria erguia-se um clamor decidido a manter a soberania, liderado pelo mestre de Avis D. João. Castela invade, então, Portugal por duas vezes: por terra e mar em 1384; por terra, em 1385. Na primeira invasão, enquanto D. João resiste no interior das muralhas de Lisboa, entre maio e outubro, ao cerco das forças invasoras, que também bloquearam o rio Tejo, Nun’Álvares derrota uma força militar castelhana em Atoleiros, no Alto Alentejo (6 de abril de 1384), impedindo a abertura de uma segunda frente. Em julho-agosto de 1385, ocorre a segunda invasão, feita pela fronteira da Beira Alta com um volume de forças superior a 30.000 homens, tendo a capital Lisboa como objetivo a atingir. O rei D. João I e o condestável D. Nuno decidem ir ao encontro do invasor de forma a provocar batalha e barrar a progressão a Norte da capital. A 14 de agosto de 1385, trava-se, então, a Batalha Real de Aljubarrota, no campo de São Jorge, a Sul de Leiria – a «mãe de todas as batalhas do Exército Português».
Esta decisiva batalha, entre portugueses, apoiados por um contingente inglês (cifra inferior a 10.000 homens), contra castelhanos, franceses e alguns portugueses, foi de curta duração (menos de duas horas), os combates violentos e o resultado conclusivo. O facto notável da Batalha de Aljubarrota residiu na capacidade tática de canalizar o inimigo para uma zona de morte, reduzindo-lhe o poder do número, através de criteriosa escolha de um terreno dominante para implantação das tropas, que foi trabalhado defensivamente. A unidade de ação entre o tiro direto a curta distância dos besteiros portugueses, o tiro indireto às longas distâncias dos arqueiros ingleses e o combate corpo-a-corpo dos peões da vanguarda, mediante comando sincronizado exercido por D. João I e D. Nuno fizeram o resto. Consumada a vitória, D. Nuno persegue os castelhanos, fazendo a exploração do sucesso, e D. João I permanece três dias no campo, na expectativa de reorganização militar inimiga e para formalizar a vitória, em conformidade com os costumes da época.
A forma de fazer a guerra em Aljubarrota não revolucionou simplesmente a arte militar em Portugal pois, em certa medida, «democratizou-a», ao conferir ao elemento popular responsabilidade de zelar pela segurança e defesa do território. Portugal e Castela firmaram pazes a 31 de outubro de 1411, em Ayllón, Segóvia e a Nação Portuguesa impunha-se ao determinismo geográfico.
Terminada e vencida a Guerra da Independência, Portugal libertava-se dos constrangimentos estratégicos que os reinos peninsulares lhe impunham e, como para além da terra só o mar, aproveitou-se um extenso litoral a Ocidente e a Sul para projetar poder Além-mar. A estratégia defensiva interna deva lugar à estratégia ofensiva externa. O primeiro lanço foi a conquista de Ceuta, no Norte de África, a 21 de agosto de 1415, onde a convergência do líder político e do comandante militar marcam de novo presença. Seguiu-se a descoberta e ocupação dos desabitados arquipélagos da Madeira e dos Açores, em 1419 e 1427, respetivamente. Iniciava-se a Expansão Ultramarina e o tempo gloriosos dos capitães de mar e de terra. Um tempo em que, como refere o Épico, se mais mar houvera …

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