A opinião de ...

Portugal Português e... Camões!

Junho é, por definição cronológica, um mês bem português! Enquanto efemérides marcantes temos o Infante Santo, que depois de cinco anos de cativeiro, decorrente do fracasso da expedição a Tânger, morreu em Fez no dia 5 de 1443. A 7, D. João II celebrou com Castela o Tratado de Tordesilhas, franqueando a rota do Atlântico e do Brasil ao mundo português. 10 é o dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas. A 12, de 1985, Portugal aderia à então Comunidade Económica Europeia (CEE), abrindo portas para o programático D do desenvolvimento idealizado com o 25 de Abril de 1974. Santo António, o mais icónico dos santos portugueses, padeceu a 13 de 1231, dia do nascimento de Fernando Pessoa, em 1888, o poeta para quem a sua Pátria era a Língua Portuguesa. A 17 de 1665, Portugal derrotava a Espanha na decisiva Batalha de Montes Claros, firmando a Restauração Dinástica iniciada a 1 de dezembro de 1640. A «Primeira Tarde Portuguesa» aconteceu a 24 de junho de 1128, quando os partidários do infante D. Afonso Henriques venceram os galegos alinhados com a condessa D. Teresa.
Portugal, porto do Graal, Pátria Mater e dos egrégios Avós. Portugal, a faixa de Terra que D. Afonso Henriques legou à gente portucalense pela cruz e pela espada. Portugal, o mais antigo Estado-Nação da Europa, com fronteiras delineadas por D. Dinis no Tratado de Alcañices, em 1297. Portugal, que (a)firmou a sua identidade nacional em Aljubarrota nesse longínquo 14 de agosto de 1385, através da dupla genial D. João I e D. Nuno Álvares Pereira. Enfim, Portugal e as gentes das sete partidas, políticos e diplomatas, soldados e marinheiros, missionários e comerciantes, aventureiros e homiziados, que projetaram da terra para o mar a gesta lusitana. Gente sonhadora, tenaz e com pendor empreendedor que se instalou em Ceuta, em 1415 e percorreu a costa africana ao longo desse século, navegou para a Índia e edificou o Império do Oriente, no século XVI, que se abalançou no Pacífico e sulcou o Atlântico Sul, ampliando e rentabilizando a terra brasílica, a partir de meados de seiscentos, que ocupou África, na segunda metade do século XIX e que, finalmente, como anotou Agostinho da Silva, descobriu a Europa, em 1985. Quando, hoje, olhamos para a inserção de Portugal no mundo, com as suas fronteiras de cooperação político-económica (União Europeia), de segurança e defesa (Aliança Atlântica) e cultural (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), não ignoramos uma representatividade abrangente e mundializante, captada na História. O segredo de Portugal? Perdurar pelos séculos dos séculos envolto algures entre o «mistério e o milagre»! Ser-se, no fundo, um pouco de Camões.
A vida de Luís Vaz de Camões (c 1524-1580) atravessa a ascensão, o apogeu e o declínio do Império Português do Oriente, ou seja, sentiu e viveu as grandezas e misérias do Portugal Imperial projetado por D. João II, concretizado por D. Manuel I e sustentado por capitães de mar e de terra como Vasco da Gama, Francisco de Almeida e Afonso de Albuquerque, entre outros. Cantou em Os Lusíadas as grandezas e ignorou as misérias, submetendo-se ele próprio a este opróbrio. Foi homem de corte em Lisboa, mas «cavou» para não ser preso. Entregou-se de amores a despeito e quase perdeu o respeito. Soldado de espada forjada nas guerras em África, perdeu um olho. Negociante e mercador nas índias, viveu atolado em dívidas. Foi lírico, épico e teatral e deixou enrolar o virtuosismo nas redondilhas da tacanhez de gente obscura. Enfim, cantou a Pátria Lusitana como ninguém, mas mendigou no inverno da vida.
No fim, desalentado de tantos trabalhos e canseiras, deixou-se ficar … à espera. Então, com os exércitos de Filipe II de Espanha às portas de Lisboa e a União Ibérica plasmada no horizonte, escorregou para as brumas da imortalidade: «ao menos morro com a Pátria», terá murmurado num último sopro de lamento. Luís de Camões, o mais português de sempre? Certamente um grande Português!

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