A opinião de ...

A Sociedade XI. A vida na Aldeia – A canalha ou ganapada c)

ganapada fazia ainda mais, ia aos roquelhos. O perigo que todos corremos!!!
Apesar deste só apanhávamos os que conhecíamos, ou provavelmente não estaríamos aqui. Havia épocas para tudo.
No Outono, depois das chuvas, porque era preciso humidade no chão, era o tempo das setas ou pinheiras. Encontravam-se nos pinhais ou na sua periferia. Têm cor alaranjada e branca, às manchas; são laranja por dentro. Cuidado, porque as há muito semelhantes, mas brancas por dentro. As maiores viam-se bem, mas as mais pequenas estavam debaixo da caruma. Têm um trevor amargo e são óptimas guisadas com batatas cozidas. Vão-se, com a geada.
Havia ainda as repolgas, na primavera. Estas não matam ninguém, aparecem nos buracos dos freixos, na madeira apodrecida. O diabo era chegar lá, pois os freixos eram esgalhados no verão e, na primavera seguinte, ainda não tinham rama que nos sustentasse. É muito mais fácil subir do que descer pois, na volta, vê-se a altura…Muitas vezes ficávamos com a garganta seca, só para descer. Mas se as havia era uma festa. São acastanhadas e de pele húmida e aparecem em tufos, com pés aparentemente comuns. Íamos ribeiros abaixo, onde há mais freixos, e já conhecíamos todos os locais, era só seguir a ordem. Recomendo com arroz. Havia ainda as línguas de vaca, assim chamadas pela forma parecida que tinham, que apareciam nos troncos dos castanheiros. São de um castanho escuro, avermelhado, e muito menos frequentes.
Mais frequentes e fáceis de encontrar são as rocas, ou frades. Aparecem no fim do verão e outono em muitos locais diferentes, têm um pé alto, e chapéu castanho claro por cima, com riscos escuros, divergindo do centro. Por baixo tem lâminas de um branco-sujo e, no pé, um anel. Assados na brasa, com umas pedras de sal e um fio de azeite, é coisa que se não esquece.
Não há qualquer técnica caseira para distinguir os venenosos, é treta. Não acreditem.
Não apanhem nenhum cogumelo sem alguém, realmente avalizado, o verificar!
Pelo outono também vêm as castanhas e estas somos nós a cozinhar, por Outubro. Têm primeiro de ser cortilhadas, para não estoirarem, e é só lançá-las na fogueira. Não pode ser forte. Usávamos caruma, que sempre dava trabalho a apanhar, ou mesmo silvas secas. Corríamos uns tantos muros e, onde havia buqueiros (locais de paredes parcialmente esborralhadas) com silvas secas (as silvas cortadas colocavam-se nos buqueiros, para reter os animais) e toca de as levar. Com as silvas a meio arder lançavam-se as castanhas e iam-se chegando ao lume com mais silvas, se necessário. Lançavam-se umas poucas por cortar, para estourar e animar a festa. Depois era só i-las tirando. Com mais paciência, eram abafadas dentro de um pano, com sal húmido, para dar mais sabor. Os mais novos acabavam invariavelmente enforretados.
Sempre havia alturas de apanhar uns melões alheios, e só era precisa uma faca.
Para os mais velhos, sempre havia alturas de apanhar um galinha gorda, mas aí a logística de preparação era mais sofisticada. Não sei nada disso!

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