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Cimento. Um amigo ou um inimigo?

O cimento transformou-se, a partir do século XIX, num dos mais importantes recursos da história da engenharia, por possibilitar a construção de edifícios em altura e com maiores vãos, rompendo assim as barreiras impostas pelas construções de pedra e madeira.

O cimento é um pó muito fino que se torna num material sólido e resistente quando entra em contacto com a água. Sendo um ligante por excelência, o cimento é utilizado para elaboração de betão (material com função estrutural) e argamassas de assentamento ou de reboco.

Mas, a aplicação do cimento não deve ser feita de ânimo leve, principalmente, em construções antigas de alvenaria de pedra. A utilização de argamassas de cimento para substituição de rebocos deteriorados neste tipo de edifícios é muito prejudicial. Isto porque, em primeiro lugar as argamassas de cimento têm tendência a fissurar e são mais propícias ao aparecimento de salitres. Pelas suas propriedades térmicas, favorecem também o aparecimento de humidade por condensação. Além disso, são materiais demasiado rígidos pelo que não acompanham os movimentos proporcionados pelos outros elementos das paredes. Por último, as argamassas de cimento não são compatíveis, também, com a imagem do edifício, nomeadamente cor, textura e modo como refletem a luz. Por tudo isto, tornam-se construtiva e esteticamente inadequadas. Apresentam bons resultados, aparentemente, a curto prazo, mas podem levar, mais tarde, ao destacamento completo do reboco e a nova intervenção no edifício. Sendo assim, a utilização de argamassas só de cimento em edifícios antigos não é recomendável. Contudo, as argamassas de cal aérea, de composição mais próxima das argamassas antigas, apresentam também, em geral, problemas de durabilidade, principalmente quando expostas à chuva e ao gelo. No entanto, chegaram até aos nossos dias argamassas à base de cal com centenas e, até, milhares de anos, com muito boas características. Mas, o que é certo é que dificilmente se conseguem reproduzir estas argamassas novamente, apesar de toda a investigação e meios técnicos hoje em dia disponíveis. Por tudo isto, e na impossibilidade de usar argamassas de cal aérea ou cal hidráulica, aconselha-se, então, a utilização das chamadas argamassas bastardas, que combinam no mesmo material o cimento e a cal. Estas argamassas são consideradas argamassas intermédias entre os dois extremos (argamassas só de cal ou só de cimento), pelo que procuram melhorar algumas características sem trazer os piores inconvenientes.

Eduarda Luso

Instituto Politécnico de Bragança

www.cienciabraganca.pt

Edição
3398

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