A opinião de ...

Quem é que está melhor?

O governo quer-nos fazer crer que “isto está melhor”. Faz lembrar aquela lamentável declaração: “o país está melhor, os portugueses é que estão pior”.
À revelia da realidade e das estatísticas, a versão governamental para eleitor ouvir é esta: o desemprego está a baixar, a economia está a aquecer, os sa-crifícios valeram a pena, confiem em nós se querem viver num oásis. É ver-dade que alguns membros da orquestra ainda não afinaram pelo diapasão do chefe.  É o caso da ministra das finanças a quem fugiu a boca para a ver-dade e anunciou a possibilidade de despedimento de milhares de funcioná-rios públicos. Para ajudar à confusão, surgem as irresponsáveis e patéticas declarações da ministra de justiça, ameaçando que ou eles (os atuais gover-nantes) ou o dilúvio. Logo ela que, por incompetência e teimosia, provocou o estado de  Citius e gerou o caos. A palavra caos, aliás, aplica-se com propri-edade também aos setores da educação e da saúde. Se tivessem sentido de Estado, estes três ministros já se teriam demitido.
Bem pode o governo deitar areia para os olhos dos incautos e atirar as cul-pas para os outros que os portugueses não se deixam enganar. Os portu-gueses sabem, e sentem, que isto está pior. Os dados divulgados pelo INE, no final de janeiro,  resultantes do inquérito às condições de vida e rendimen-to dos portugueses contrariam a narrativa do primeiro-ministro sobre as con-sequências da austeridade e confirmam  o que o PS vem denunciando. A po-lítica de austeridade conduziu ao agravamento da situação social e ao au-mento das desigualdades na distribuição de rendimentos.
De facto, os números revelam um agravamento das situações de pobreza especialmente nas famílias com filhos e na população idosa, atingindo o va-lor mais elevado da última década. São as crianças, os jovens  e os idosos os mais afetados.  Há 570 mil crianças em risco de pobreza, mais 80 mil que em 2011. Uma criança em cada quatro. Nos idosos, a taxa de risco de po-breza também subiu muito. Há 520 mil idosos nessa situação, mais 130 mil que em 2011. Mas a pobreza também atinge 10,7% das pessoas com traba-lho. Entre 2011 e 2013, mais 450 mil portugueses entraram para o grupo das pessoas em risco de pobreza.
Este é o resultado das medidas de empobrecimento adotadas pelo governo: corte de prestações sociais de solidariedade; redução de pensões e de ou-tras prestações atribuídas aos idosos; aumento brutal de impostos... O go-verno não se quis cingir ao Memorando de Entendimento negociado pelo an-terior governo e quis ir além da troica. Os maus resultados são, pois, da sua exclusiva responsabilidade.
Outro dado negativo tem a ver com o aumento das desigualdades. Todos os indicadores que medem a desigualdade no rendimento pioraram em 2013. Os 10% dos portugueses mais ricos têm hoje 11,1 vezes mais rendimentos do que os 10% dos portugueses mais pobres - uma relação que em 2009 era de 9,2. Ou seja, os rendimentos da população “mais rica” é 11,1 vezes supe-rior ao rendimento da população “mais pobre”.
Esta é a verdade dos números publicados pelo INE que deitam por terra a narrativa idílica do governo e desmentem as afirmações proferidas pelo pri-meiro-ministro em dezembro último: “Ao contrário do que era o jargão popu-lar de que quem se lixa é o mexilhão, de que são sempre os mesmos (...) desta vez todos contribuíram e contribuiu mais quem tinha mais, disso não há dúvida”. Afinal os factos provam que, ao contrário do que diz o primeiro-ministro, quem se lixa é o mexilhão.

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