A opinião de ...

Comunicar em democracia

“Comunicar é a coisa mais humana que existe.” A frase é do Papa Francisco e foi proferida na passada sexta-feira na audiência aos responsáveis ​​pela comunicação das dioceses, das congregações religiosas, das associações e movimentos católicos, das novas comunidades e paróquias na França.
“Muito obrigado pelo vosso trabalho, porque não é fácil comunicar, mas a primeira coisa que uma pessoa faz é comunicar. Desde Adão quando viu Eva, ele comunicou. Comunicar é a coisa mais humana que existe. Continuem com isso”, disse o Papa no discurso divulgado pela Sala de Imprensa da Santa Sé e citado pela agência Ecclesia.
De facto, comunicar não é fácil. Que o diga o jornalista do Expresso que, por estes dias, foi manietado e transportado em braços ao exterior de uma sessão com André Ventura, para o qual a comunicação até tinha sido convidada pela assessoria de imprensa do Chega.
Ora, no ano em que se passam 50 anos (meio século) do 25 de abril, que devolveu aos portugueses a possibilidade de comunicar em liberdade, sem medo de levar uns sopapos (na melhor das hipóteses) de algum vigilante do regime, as redes sociais vieram trazer uma nova ditadura que ameaça a liberdade de comunicarmos e de nos expressarmos sem haver, do outro lado, uma horda de carneirinhos à mercê de um líder, armados de insulto fácil, mentiras e muito ruído para contaminar qualquer tentativa saudável de discussão logo à partida.
O nível de ruído só vai aumentar ao longo de um ano em que haverá dois atos eleitorais.
Ao longo de 2024, não vão faltar notícias e artigos a lembrar as conquistas de abril. Mas convém que sejam mais do que palavras vãs, proferidas no meio de um rasgar de vestes e mãos a bater no peito por parte de quem menos faz e mais ataca as liberdades alheias, sobretudo a de expressão.
Às vezes parece que 50 anos de democracia não ensinaram a certas pessoas que pululam pelos grupos políticos de whatsapp.
É só triste e lamentável.
No discurso entregue aos comunicadores franceses, publicado na Sala de Imprensa da Santa Sé, o Papa realça que o “desafio de uma boa comunicação é hoje mais complexo do que nunca”, e o risco é abordá-lo com “uma mentalidade mundana”, “com uma obsessão por controlo, poder, sucesso, com a ideia de que os problemas são principalmente materiais, tecnológicos, organizacionais e económicos”.
“Para nós, comunicar é estar no mundo para cuidar do outro, dos outros, é ser tudo para todas as pessoas; é partilhar uma leitura cristã dos acontecimentos; é não se render à cultura da agressão e da difamação; é construir uma rede de compartilhamento do bem, do verdadeiro e do belo, feita de relacionamentos sinceros; é envolver os jovens na nossa comunicação”, desenvolveu o Papa, apontando três palavras para o seu caminho “testemunho, coragem e olhar amplo”.

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