A opinião de ...

A importância de uma boa desculpa

“Querida, hoje vou ter de ficar a trabalhar até mais tarde, por isso é que vou chegar atrasado, não é por ir fazer uma patuscada com os amigos, está bem?”. Quem nunca pecou, que atire a primeira pedra (João 8:7), já diziam os Evangelhos.

Quantas vezes, a falta de uma boa desculpa para chegar atrasado ao jantar não terá provocado a queda de impérios inteiros. Até parece que estou a ouvir o pobre do Odoacro, quando comandou a invasão e o saque de Roma, destronando o último imperador romano Rómulo Augusto, a mandar um recado à mulher: “Querida, vou só ali acabar um trabalho que tenho em mãos com uns tipos que falam uma língua esquisita, venho já”.

Mas, para além de uma boa desculpa, o que nunca deve faltar à mesa é um excelente pedido de desculpas.

As nossas atitudes são como uma ida às compras. Antes de nos aventurarmos a meter coisas no saco, convém confirmarmos o preço, para não sermos apanhados de surpresa à saída e chegarmos à conclusão que tivemos mais olhos do que barriga e que, afinal, não podemos pagar o preço que a menina da caixa nos está a pedir.

Nessa altura, para além de engolir o orgulho, convém soltar um bom pedido de desculpas.

Assim como quando insultamos alguém. Até pode nem ter sido essa a intenção mas no mundo dos adultos, todas as palavras e ações contam. Apesar de poderem contar pouco para nós, podem contar muito para os outros.

Numa sociedade cada vez mais autocentrada, um bom pedido de desculpas está cada vez mais subvalorizado. Afinal, é a força do hábito que se vai perdendo.

Ou alguém acredita que se os pobres dos castelhanos que deram de frente com a padeira, em Aljubarrota, soubessem pedir desculpa em português não teriam sido poupados à tremenda sova que levaram da dita senhora?

Já o Papa Francisco dizia, em setembro passado, que “fora do perdão não há esperança, fora do perdão não há paz”. “O perdão é o oxigénio que purifica o ar poluído pelo ódio. O perdão é o antídoto que cura os venenos do rancor, é o caminho para desativar a raiva e curar tantas doenças do coração que contaminam a sociedade.”

Ora, qualquer pecador sabe bem da importância de um ramo de rosas ou um anel de brilhante vir a acompanhar o respetivo pedido de desculpas.

Até porque o pedido de desculpas implica a assunção do erro cometido (condição obrigatória) e a garantia de que não voltará a repetir-se.

Odoacro que o diga. Ou não levou consigo todas as jóias que conseguiu arrebanhar para se penitenciar perante a respetiva senhora? E vejam lá se voltou a chegar tarde ao jantar por ter ido dar uma voltinha a Roma...

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