A opinião de ...

Não podias... e agora começas a não poder

Por estes dias em que se assinalaram os 49 anos do 25 de abril, o Dia da Liberdade, proliferou nas redes sociais o hashtag #nãopodias, que agrupa uma série de coisas que, antes do 25 de abril, não se podiam fazer.
Uma forma de preservar a memória e chegar aos mais novos, que olham para o 25 de abril como um acontecimento distante, à semelhança de outros, como o 05 de outubro ou o 01 de dezembro, datas marcantes também na história portuguesa.
Dos tempos passados em ditadura sobraram diversas coisas que ‘não podias’ fazer, como ajuntamentos (mais de três pessoas), as mulheres viajarem sem autorização dos maridos ou dos pais, ler determinados livros, jornais ou revistas, assistir a espetáculos que fossem considerados anti-regime, entre outras barbaridades.
Ter opinião própria não era bem visto e podia valer uma visita aos calabouços da polícia do regime, a PIDE, bem como valentes cargas de porrada, se não pior.
Votar em eleições livres era coisa que também não podias.
Tudo isso parece ter ficado para trás, à medida que, ano após ano, se sucedem os discursos da praxe e as sessões solenes habituais.
O significado de Liberdade e a sua expressão volta a estar, cada vez mais, ameaçada. Não agora por um regime ditatorial mas por uma ditadura do politicamente correto.
Ainda esta semana, o piloto italiano Valentino Rossi, nove vezes campeão mundial de velocidade em motas, dizia que, hoje em dia, os pilotos são “mais falsos, de muitos abraços, já não dizem o que pensam” e estão reféns do “politicamente correto”.
Quem se atrever a ‘mijar fora do penico’ é imediatamente perseguido pelas turbas das redes sociais, que vieram trazer novas plataformas para exercermos a nossa liberdade de expressão mas, ao mesmo tempo, têm contribuído para a cortar.
Precisamente porque quem foge ao pensamento ‘fofinho’ e aceite pelas turbas acaba por se tornar alvo.
A capacidade crítica resume-se ao ‘parecer’ em vez do ‘ser’.
Esta semana, em conversa com um amigo leigo ligado a estruturas da Igreja constatávamos a dificuldade crescente de multidões em irem para além dos títulos e em perceber o que muitas vezes está escrito.
Apesar de haver liberdade no papel, ela começa a não existir, de facto.
Dizia-me esse meu amigo que, por exemplo, há notícias que têm mais partilhas do que aberturas. Ou seja, há muitas pessoas que partilham coisas nas suas redes sociais sem se darem, sequer, ao trabalho de lerem aquilo que estão a partilhar.
Lá está, é melhor parecer do que ter o trabalho de perceber,.
Mas isso leva-nos a uma sociedade com cada vez menor capacidade crítica, com cada vez menor capacidade de interpretação daquilo que nos rodeia. Haverá maior prisão?

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