Os sacos estão cheios de violas
As eleições de domingo provocaram um autêntico terramoto político na capital de distrito. A vitória de Isabel Ferreira (foi claramente uma vitória mais da candidata do que do partido que a apoiou) estilhaçou uma série de mitos urbanos construídos ao longo dos últimos anos e obrigou muitas violas a regressarem ao saco (a minha incluída).
Uma análise feita aos factos anteriores à eleição apontava algumas ‘verdades’: Isabel Ferreira já tinha perdido uma eleição em Bragança (ok, foi no contexto de legislativas, mas foi uma eleição); o PSD era poder há 28 anos e dominava todas as juntas de freguesia, tendo ganho há quatro e há oito anos com mais do dobro dos votos dos candidatos do PS. Nas duas eleições anteriores ultrapassou os dez mil votos enquanto o PS rondou os cinco mil.
Outro mito passava pela falta de apoio que o eleitorado feminino daria a uma candidata mulher.
Outro aspeto tido como facto era a pouca disparidade que tradicionalmente havia entre os votos para os três diferentes órgãos a eleição: Câmara, Assembleia Municipal e Junta de Freguesia.
Acresce ainda o facto de Paulo Xavier ser uma figura sobejamente conhecida no concelho (sobretudo na cidade). Mas isso jogou contra o PSD, criando, talvez, uma sensação de confiança que não se traduziu nas urnas.
Isabel Ferreira era, claramente, a candidata com mais vontade de ganhar que o PS apresentou desde Luís Mina, há três décadas. Todos estes ingredientes apontavam para uma grande improbabilidade da eleição da então deputada Isabel Ferreira.
Ora, as eleições legislativas de maio terão contribuído, também, para o resultado de domingo, pois a investigadora deixou a Assembleia da República e passou a dirigir o seu foco por inteiro para a eleição autárquica. E isso notou-se no terreno, nas ações empreendidas e na motivação.
De então para cá, fiel ao seu princípio e apesar dos muitos ‘nãos’ que recebeu para as listas, Isabel Ferreira provou que o caminho traçado era o correto, apesar de muitas vezes não parecer. Tendo em conta o resultado, as violas têm de regressar ao saco.
No entanto, houve resultados que foram inflacionados pela onda de vitória gerada e pelo voto útil que polarizou as coisas em praticamente dois partidos.
No meio rural, o PSD ganhou em 34 das 38 juntas de freguesia. No entanto, contrariando a tradição, os votos dividiram-se e Isabel Ferreira venceu, depois, em 13 delas para a Câmara.
Mesmo entre as três listas apresentadas pelo PS (Câmara, Assembleia Municipal e Junta da cidade), por exemplo, há grandes diferenças de votação.
A chave da vitória foi a capacidade de mobilização. O PSD perdeu cerca de 1600 votos face a 2021. Na cidade, perdeu pouco mais de 500. Mas Isabel Ferreira mais do que duplicou o resultado do PS. Votaram mais 3003 pessoas no concelho, pelo que a transferência de votos não foi grande. Mas muitos que antes não votavam desta vez fizeram questão de o fazer.