A coragem de quem brilha por dentro: Porque há quem nasceu para iluminar o que o mundo esqueceu
Há quem traga uma luz que não se apaga. Não porque tenha uma vida fácil, mas porque aprendeu a cuidar, a acreditar e a amar. Brilhar por dentro é um acto de coragem — e é talvez a forma mais bela de fé.
Vivemos num tempo em que se confunde brilho com aparência. A luz que mais se vê é, muitas vezes, a que menos ilumina. Corremos para sermos notados, competimos para sermos admirados, mas esquecemo-nos do essencial: não fomos feitos para impressionar, fomos feitos para iluminar. Brilhar por dentro não é vaidade — é gratidão. É o reflexo de quem se sabe amado, e por isso tem coragem de ser inteiro.
Deus não se manifesta apenas nos altares, mas naqueles que vivem com verdade. Habita no detalhe, na ternura, no cuidado com o que é pequeno. Cuidar de si não é egoísmo — é o primeiro gesto de fé. Quem não se quer bem dificilmente cuida dos outros. Quem não se reconcilia com a sua própria história dificilmente descobre Deus na história dos outros. Por isso, o primeiro mandamento não é apenas amar a Deus, mas amar como quem já se sabe amado.
Ser luz exige coragem. Coragem para ser diferente quando tudo empurra para o igual. Coragem para fazer bem o que ninguém vê, para manter o coração aceso quando o mundo se apaga. Coragem para acreditar que a bondade ainda vale a pena, que a beleza ainda importa, que o amor ainda salva. A luz nunca grita — mas transforma. E cada vez que alguém decide brilhar por dentro, o mundo inteiro respira um pouco melhor.
O sagrado não se perde de um dia para o outro; apaga-se aos poucos, quando o gesto deixa de ter alma e o amor se transforma em hábito. O brilho das coisas de Deus não se esgota por falta de luz, mas por falta de cuidado. Cada vela apagada, cada oração apressada, cada palavra dita sem alma — tudo isso vai retirando beleza à fé e sentido à vida. Mas há sempre quem ouse reacender o lume, quem não aceite o cinzento da indiferença, quem escolha a chama da esperança.
As coisas de Deus — e a própria vida — merecem ser feitas com brilho. Um altar limpo, um gesto paciente, um olhar que acolhe, um perdão oferecido, uma conversa que cura — tudo isso é forma de oração. Deus habita nas mãos que cuidam e nos corações que se levantam. O brilho do templo não vem das lâmpadas, mas das almas que o habitam. Cada pessoa que ama é uma lâmpada acesa no coração do mundo.
Brilhar é também cuidar de dentro. É aprender a gostar de si com verdade, a aceitar-se sem culpa, a reconhecer-se amado apesar das feridas. É deixar que Deus se acenda por dentro — não como uma ideia, mas como uma presença. Quando alguém se reencontra consigo, é Deus que reaparece no rosto dessa pessoa. E é por isso que o cuidado interior é uma forma de fé: porque revela um amor que não desiste.
Jesus foi essa luz viva. Não brilhou para ser admirado, mas para iluminar o caminho dos outros. Lavou pés, abraçou feridos, chorou com quem sofria. A Sua força não estava no poder, mas na compaixão. A Sua grandeza não estava no sucesso, mas na entrega. E é esse o milagre que continua a acontecer: cada vez que alguém ama, Deus volta a nascer no mundo.
Cuidar, acreditar, brilhar — eis a trindade dos corajosos. Num tempo que celebra o ruído, há quem escolha o silêncio. Num mundo que idolatra o sucesso, há quem prefira a fidelidade. E é nessa diferença que o amor volta a ser revolucionário. O brilho é uma forma de resistência: a resistência dos que não desistem de ser luz.
Ser luz é um acto de fé, mas também de amor-próprio. Porque quem brilha não é quem tem mais, é quem se sabe amado. E quem se sabe amado não precisa de provar nada — apenas viver.
Talvez seja este o segredo de toda a santidade possível: deixar Deus acender-se em nós até que a nossa própria vida se torne luz.
