A opinião de ...

Perdas e danos

Ser transmontano não é defeito, muito menos feitio. Adriano Moreira pedia, com delicadeza, que não expressássemos muito alto a nossa ‘transmontaneidade’ [ndr.: não por estas palavras] porque os outros, quem ouvisse, podiam não ser e ficavam com vergonha.
Ao longo dos anos, os transmontanos foram sofrendo perdas, que se transformaram em danos prementes e permanentes.
A unidade territorial que se quer de um país e que levou, por exemplo, ao estatuto de insularidade dos arquipélagos da Madeira e dos Açores (que estabelece uma série de compensações aos seus habitantes que decorrem das dificuldades de viverem fora do continente, com viagens, por exemplo.
No interior, ainda que ligados ao mesmo território de todo do país continental, fomos perdendo os diversos comboios (primeiro a linha do Sabor, depois a linha do Tua). Perdemos serviços (Direção do Parque de Montesinho ou a maternidade de Mirandela, por exemplo). Perdemos os recursos aqui existentes (exploração das barragens concessionada pelo Estado).
Daí que a reivindicação de uma compensação por um negócio de mais de dois mil milhões de euros (poucos terão a real noção da enormidade do negócio) em forma dos impostos devidos – e cobrados a qualquer cidadão comum sem apelo nem agravo – não seja mais do que uma elementar justiça.
Afinal, quando um de nós tem um qualquer diferendo com a Autoridade Tributária, primeiro paga e depois é que bufa (ou recorre).
Neste caso, a EDP decidiu vender património imóvel que detinha no Nordeste Transmontano (seis barragens), o que está no seu direito. Mas acoplados aos direitos, há também deveres, alguns elementares, como o pagamento de impostos por transações. Mas os grandes grupos económicos tendem a focar-se nos direitos e a esquecer-se dos deveres. Não é de estranhar.
Estranho é o Estado seguir essa mesma lógica, mostrando-se muito fraco com os fortes quando é tão forte com os fracos.
Está na hora de passar das palavras (ou recomendações) aos atos. Cobre-se, porra!
Falando em perdas e danos, a diocese de Bragança-Miranda ficou esta semana mais pobre. Viu partir para a Casa do Pai um dos seus presbíteros, o Pe. Joaquim Leite. Exímio contador de histórias, dono de uma escrita sibilina, foi cronista destas páginas e autor de vários livros, três deles editados com chancela da Fundação Mensageiro de Bragança.
À família e amigos, o Mensageiro endereça profundas condolências.

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3925

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