Um Presidente à espera de Moedas?
Se o objetivo do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ao dissolver um parlamento de maioria estável era clarificar alguma coisa, o tiro saiu pela culatra.
Em novembro, Marcelo decidiu fazer tábua rasa da lei da República, que estabelece que as eleições Legislativas servem para eleger deputados para o Parlamento e não um Primeiro-Ministro, recusando uma solução que já tinha sido usada por um seu antecessor, Jorge Sampaio, que se arrisca a ficar para a história como o maior estadista a passar pelo cargo.
Quando Durão Barroso desertou rumo à presidência da União Europeia, Sampaio aceitou nomear Primeiro-Ministro Pedro Santana Lopes, o nome indicado pela maioria parlamentar vigente na altura, de uma coligação PSD-CDS.
Só passado quase um ano, depois de ouvidos empresários e outras figuras notáveis do país, é que se decidiu a dissolver o Parlamento e a convocar as eleições que entregaram o poder a José Sócrates.
Agora, perante a circunstância da demissão de António Costa, Marcelo optou por avançar logo para novas eleições apesar de a legislatura, que tinha colocado uma maioria de deputados do PS no Parlamento, ainda ir a meio.
O resultado disso foi uma vitória pouco esclarecedora da AD em termos nacionais, que pode levar à ingovernabilidade se houver incapacidade de Luís Montenegro em estabelecer pontes com novos parceiros, pois os velhos, por si só, não chegam.
Quem pode bastar é o Chega mas as primeiras declarações que se têm ouvido após as eleições apontam para a repetição dos velhos erros do passado, quer do PS quer do PSD, que contribuíram para reforçar a votação no Chega, o partido que ambos têm ostracizado.
Quanto mais insistirem em afastar o Chega, mais força lhe dão, ao criarem o efeito ‘underdog’, criando simpatia pelo mais fraco e ostracizado pelos poderosos.
O que é certo é que a vitória de Luís Montenegro no domingo foi pouco expressiva e muito menos expressiva do que muitos queriam, incluindo dentro do próprio PSD. Talvez por isso as televisões não se cansavam de perguntar a Carlos Moedas, na noite eleitoral, se estava disponível para liderar o PSD.
Caso as Europeias tragam outro resultado que não uma vitória clara do PSD, Montenegro fica com o seu raio de ação bastante limitado e cria a dúvida no Presidente se será a pessoa certa para liderar o país nestas circunstâncias.
Fica, então, aberta a porta a novo ato eleitoral, com a perspetiva de o PSD ser, nessa altura, liderado por Carlos Moedas...
Será Moedas a solução que Marcelo sempre quis?
