A opinião de ...

Da crise da habitação ao desvario de um (des)governo

O plano “Mais habitação”, recentemente apresentado pelo governo com a pompa e circunstância habituais para sobrevalorizar as remessas de “papas e bolos” que passa para a opinião pública, como sendo uma punção mágica para resolver, de uma vez por todas, a falta de habitações condignas, que afetam seriamente um espetro alargado das camadas mais frágeis da nossa sociedade, foi demasiadamente mau para ser credível e demasiadamente mal estruturado para ser exequível, girando tudo à volta de promessas irrealistas e manifestações românticas desenquadradas das condições do país.
Objetivamente, foi um perder de tempo inútil, ficando-se tudo por um arrazoado de planos e conjeturas sem ponta por onde se lhes pegue, sem viabilidade e sem a mínima hipótese de concretização a curto nem a médio prazo, brincando com um problema muito sério para ser divulgado no mês do Carnaval, a não ser que alguém pretendesse alargar o mote das habituais paródias, rábulas, sátiras, fantasias e brincadeiras dos corsos de Carnaval, problema demasiado importante para ser abordado com tamanha leviandade mesmo na época em que saiu para a rua e extremamente complexo para ser tratado com a ligeireza e o amadorismo dos seus mentores, manifestamente incapazes de tratar de um assunto como este, cujos destinatários mereciam um mínimo de respeito e de consideração.
Consequências disso não se fizeram esperar e a confusão gerada foi de tal ordem, que obrigou os autores desta obra prima a virem a público tentar travá-la com uma autêntica avalanche de explicações e justificações, cada qual a mais “sui generis”, como “é assim mas não é assim”, “era para ser, mas também pode não ser”, “é para uns mas não é para outros”, “é assim mas também pode ser assado” e quejandas que, na prática, mais não fizeram do que lançar ainda mais confusão.
Assim, a quem se vê confrontado com a necessidade dramática de tentar uma habitação condigna, de acordo com as suas necessidades e ao alcance das suas possibilidades, a única certeza percetível do plano agora lançado, é que não passa de uma mão cheia de nada, um disparate total, eivado de dúvidas e incertezas, que não dá qualquer garantia à indústria da construção nem aos potenciais compradores, cujos aspetos positivos, (e mal fora que não tivesse nenhuns), são tão irrelevantes, que acabam por passar despercebidos na floresta de disparates, contradições, e inutilidades, as suas imagens de marca que, que não levam a lado nenhum e que, se não for criteriosamente reformulado, a tal punção mágica está condenada a não ser mais do que um nado morto.
Porque o assunto promete e as casas não se fazem por decreto, voltaremos a ele, a não ser que, por magia ou por milagre, das barrigas dos coelhinhos de chocolate da próxima Páscoa, venham cheias de casinhas para todos os gostos e para todas as bolsas.

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3924

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