A opinião de ...

Água e adubo para o roseiral de Bragança

Enquanto, na Catalunha, no dia 1 de Outubro, 48% dos eleitores desafiaram a autoridade espanhola proclamando o governo catalão que 90% deles votaram pela independência, vamos lá ver com que efeitos, por cá, foi dia de eleições autárquicas.
 Os resultados são muito díspares e dependentes de muitos factores. Porém, os dirigentes partidários fizeram deles leituras nacionais. Os do PSD, gerindo comunicacionalmente mal os resultados, legitimaram a vitória socialista e infligiram uma derrota dolorosa a Pedro Passos Coelho, transformando estas eleições na segunda volta das legislativas de 2015. Com esta má gestão, nem sequer aproveitaram as fragilidades da vitória socialista (perda da maioria absoluta em Lisboa e resultado vergonhoso no Porto).
É verdade que o PS nunca tinha conquistado tantas câmaras municipais (159) e o PSD tão poucas (98), este nos últimos 31 anos. Tal como o efeito governação se nunca tinha feito sentir tanto, nas autárquicas, nos últimos 31 anos. Porém, esta leitura nacional só cabe na retórica partidária porque 30% dos vencedores candidataram-se em listas socialistas mas não são militantes. O mesmo para a derrota do PSD.
E, pronto. Passos Coelho dará o seu lugar a outrem para que o PSD tenha nova vida e possa fazer frente ao PS nas próximas legislativas, que as europeias de 2018 não passarão de ensaio. O PSD tentará certamente libertar-se da imagem de partido austeritário e sem doutrina social, a que o PS, a Esquerda e muitos sociais-democratas deslocados o colam.
A contrario, a vitória socialista pode não ser muito benéfica para o Governo. Os parceiros «geringontes» menores terão percebido que a vinculação ao PS só os prejudica em termos eleitorais e podem seguir outro caminho. Será interessante ver quem vai aprovar o Orçamento do Estado para 2018, se o voto favorável destes geringontes ou o de abstenção do PSD. Já em Novembro/Dezembro de 2018, será difícil ao PS arranjar muletas e as eleições podem ser antecipadas.
Numa leitura distrital bragançana, o PS saiu vencedor, em votos e em Câmaras Municipais.
Numa leitura concelhia do mesmo distrito, eram consideradas possíveis embora difíceis as vitórias em Macedo de Cavaleiros e em Mirandela mas a gestão política destas câmaras vai ser interessante porque o PS não dispõe de maioria nas duas assembleias municipais. Em Mirandela, a vitória foi celebrada com trombetas e muitas rosas pois foi a primeira vez que o PS ganhou a Câmara. Júlia Rodrigues, a novel autarca bem pode ensinar a lição aos socialistas Bragançanos, porque, no Concelho de Bragança, as rosas encontraram terreno inóspito tendo-se feito sentir mais a época de seca. Tanto mais que, desta vez, não houve independentes a «roubar» rosas e o resultado foi o mesmo. Hernâni Dias e o PSD ganharam porque foram avaliados como tendo governado bem. Invocando Karl Popper, o trabalho foi validado pela concordância maioritária de 57% dos votantes, a que correspondem apenas 30% dos eleitores. Mas só os que não votaram (47,39% dos eleitores) são culpados pela sua abstenção.
 

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