A opinião de ...

Ditos de campanha: da chantagem à brincadeira

A ética e a cidadania foram muitas vezes maltratadas na campanha para as últimas eleições autárquicas no que ao Concelho de Bragança diz respeito. Os candidatos nem sempre esclareceram os eleitores e nem sempre apresentaram só os seus programas de ação. Muitas vezes, ultrapassaram limites que insultam a cidadania e põem em causa a civilidade e a sã convivência entre cidadãos. Também houve expressões de alguma hilariedade. Aqui ficam algumas.
De chantagem: «se não ganharmos, as obras terminam no dia seguinte às eleições e não daremos nem mais um tostão para esta freguesia». «Nós é que somos cristãos. Vejam o apoio que a Igreja nos deu nas festas da cidade. Os outros são ou maçónicos ou ateus».
De chantagem, mentira e machismo: «Não votem nela (em Maria José, candidata do MSP a Presidente da Junta de Santa Comba de Rossas): a Segurança Social tira-vos a todos o RSI e os outros subsídios».
De apoucamento dos adversários: «O Meirinhos, se for deixado no Penacal, precisa de GPS para chegar a Bragança». «O Rocha é ele e mais uns quantos doutorzecos». «O Hernâni entrou mudo e saiu calado das reuniões de Câmara. Além disso, segundo Paulo Xavier, há quatro anos, não servia para quarto da lista de Nunes. Agora, Paulo Xavier quis ser segundo de Hernâni». «O Dr. Meirinhos diz que vem cá mudar de camisa. Eu compro-as cá».
De xeno e fraternofobia: «O Meirinhos é estrangeiro. Acho que até nasceu do lado de lá da fronteira». O Henrique também não é de cá, é de Chaves. Vive e trabalha cá há 35 anos mas «roubou-nos» uma mulher, em Macedo de Cavaleiros».
De repulsa da concorrência: «Não votem no Meirinhos. Traz para cá os chineses e comem-nos a todos».
De hilariedade: Um candidato para outro: «Tu és a nossa esperança». Outro candidato: «Não é, não, a esperança é a carrinha do Meirinhos, eu cá não quero ser esperança. E outra vez o primeiro: «nunca imaginei que uma carrinha pudesse trazer tanta desesperança». «PS, o teu coração já esmorece, PSD, a tua força já se não vê». «Nem Jorge Nunes confia em Hernâni Dias. A três dias das eleições, nomeou quinze dirigentes e um genro para o protegerem». «Dá uma chupa no chupa-chupa do Meirinhos, vais ver que é bom».
Civilizada ou nem por isso, a campanha terminou e o PSD ganhou, com maioria absolutíssima de eleitos, que não de percentagem. A Oposição ficará quatro anos contra uma enorme maioria, ingovernável nos seus diferentes e diversos interesses. Como todas as grandes maiorias, esta pode cair por dentro.
O voto das gentes de Bragança pode ter uma de duas interpretações quase antagónicas: 1) as pessoas são tão inteligentes, ao contrário das outras, que até distinguem perfeitamente voto para as autárquicas e voto para as legislativas; 2) as pessoas são tão masoquistas que nem um cartão amarelo mostraram ao Governo. A verdade é que não tinham de mostrar porque se trata de eleições autárquicas. Nas legislativas, talvez seja diferente.

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