A opinião de ...

A Europa não é para nós

É desconcertante que, face à União Europeia e seus organismos, o comportamento e atitude generalizada dos nossos políticos, que depois se estende como um manto diáfano sobre os cidadãos, na prática, seja de menorização da sua importância para as nossas vidas enquanto cidadãos europeus.
Dá ideia, correndo o risco de ser injusto e de generalizar demasiado, que só apelamos à Europa e nos consideramos recetores beneficiários dos seus créditos, transferências, ajudas financeiras e das suas reformas, enfim, da sua Democracia, sem ser responsavelmente protagonistas da sua construção e saudavelmente reconhecidos pela sua solidariedade.
Atente-se inclusive o cúmulo paradoxal de haver partidos políticos com assento parlamentar nacional que são anti-União Europeia, mas que concorrem na mesma às eleições para serem nossos representantes no Parlamento Europeu!
Vem esta opinião à laia de proposição pelo facto de se assinalar o dia 09 de maio como “Dia da Europa”, efeméride nascida no Conselho Europeu de Milão, de 28 e 29 de junho de 1985 e celebrada pela primeira vez em 1986, e hodiernamente, nas suas múltiplas dimensões e perspetivas, em termos de ação política e social portuguesa, se não lhe dê relevância praticamente nenhuma.
É que foi em 9 de maio de 1950, pelas 16h00, que Robert Schuman, então ministro dos Negócios Estrangeiros de França, apresentou, no Salon de l’Horloge do Quai d’Orsay, em Paris, uma proposta com as bases fundadoras do que é hoje a União Europeia.
Talvez culpa minha, mas em toda a CIM-TTM e na CIMDOURO não vislumbrei uma só atividade comemorativa!
Só talvez nas Escolas e no âmbito educativo, de que o Centro Europe Direct em Bragança é exemplar, o “Dia da Europa” seja considerado como um dos símbolos da União Europeia e se constitua como um importante mote para a dinamização de atividades que procurem aproximar a Europa aos adolescentes e jovens.
Depois queixam-se os responsáveis políticos nacionais, antevendo o pior, relativamente à esperada elevada abstenção nas eleições europeias a realizar no próximo ano de 2024, em 09 de junho! Como se lê, “aquele que semeia pouco, pouco também ceifará” (2 Cor 9,6)!
Ainda que haja visões diferentes penso que todos somos conscientes do que seria de Portugal sem a União Europeia e sem a sua demonstrada cooperação.
Dir-se-á que nem todos estão interessados, com a mesma intensidade, que se conheça os valores comuns europeus, os direitos fundamentais defendidos e a compreensão mútua do que nos une neste grande espaço comum, aliás como se constata face a esta guerra perpetrada pela Rússia contra a Ucrânia, mas pelo menos, aqueles que são detentores de responsabilidades políticas, quaisquer que sejam os seus níveis e âmbitos, ajudem a promovê-los.
Diria que se se quiser, algum dia, reformular os feriados em Portugal, o dedicado à Europa não deixaria de ser com certeza justo e fundamentado.
A União Europeia precisa de reformas, necessita ter instituições mais democráticas, que o Presidente da Comissão Europeia seja eleito pelos cidadãos europeus, que os Comissários Europeus não tenham de ser de cada um dos países (como se, em Portugal, o Governo tivesse de ter um ministro por cada distrito...), que haja mais referendos e participação dos cidadãos na ordem e enquadramento legislativo, sim, não penso haver qualquer dúvida.
Contudo, como europeísta convicto, digo-o, a Europa é também o nosso País.

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