A opinião de ...

A nova censura

Ao que tudo indica volta a estar na moda a censura. Uma moda absurda e inadmissível que levou por exemplo ao despedimento de uma Diretora de uma Escola, nos EUA, por numa sala de aula sobre arte, ter sido exibida a estátua de David, de Miguel Ângelo, sob o pretexto do escândalo da sua nudez.
Logo a obra-prima da escultura, originado num bloco de 5,17m de mármore branco que Miguel Ângelo Buonarroti esculpiu, sem descanso, durante dois anos, que preside atualmente à Academia de Florença e que representa o ideal da beleza masculina, ser considerada pornografia!
Na verdade, os últimos anos têm sido pródigos nesta arenga de idiotas, no sentido etimológico do termo, que não se coíbem, em diferentes países, de proibirem livros, escondê-los em Bibliotecas, substituírem palavras, expressões e mesmo pensamentos em outros, como no Tintin, no Astérix, no Lucky Luke ou em autores como Enyd Blyton, Mark Twain, Ian Fleming, Agatha Christie ou Roald Dahl.
O mesmo se aventuram a fazer nos filmes do cinema, até nos de animação, chegando ao teatro, à música, enfim, propugnando a criação de trincheiras culturais, de cancelamentos rápidos e do uso da arte como arma política e de costumes.
Será que a seguir vem o Boticelli, o Picasso, o Leonardo da Vinci, o Andy Warhol, ou na literatura, o Shakespeare, ou mesmo o Camões, o Eça de Queirós e o Guerra Junqueiro? Depois a própria Bíblia ou o Alcorão?
Em Portugal já se começam também a sentir os seus efeitos, como a retirada dos 32 brasões florais do jardim da Praça do Império ou o caso da representação da peça de teatro “tudo sobre a minha mãe”, etc.
Pelos vistos, entre as causas está, de um lado, o “integrismo woke”, resultado da evolução da expressão “politicamente correto”, originada no mundo universitário, nos anos de 1980, para esta ideologia que significa “desperto, estar atento” principalmente às minorias e “enfrentar qualquer opressão aos que são diferentes” do que o #Me Too é um dos símbolos principais. Do outro lado, como outra causa, o fundamentalismo conservador e a ideologização da sociedade.
No entanto, no centro, deve estar a História, a Cultura, a Liberdade, que nos festejos dos 49 anos do 25 de Abril se deve não só evocar, mas também concretizar para evitar e combater a censura dos tempos modernos, estas guerras totalitárias interculturais ou pré-culturais que advogam retirar e censurar, que se sabe por onde começou e por onde anda, mas não aonde vai parar.
É que se apresenta como uma censura que se vai estendendo por todo o mundo, coartando todo o tipo de liberdades em favor da superioridade moral destes novos inquisidores, que são os que definem as normas de pensamento e do comportamento, e, imagine-se, o que é o bem e o que é o mal, o que é correto e aceitável e o que não é.
Este estado a que chegamos, parafraseando o nosso herói Salgueiro Maia, nas sociedades ocidentais, deve levar-nos a procurar o remédio para esta enfermidade. Enfermidade de estupidez, de incultura, de infantilismo que sob a aberrante inflação de direitos baratos e pequenas “liberdades” inúteis que acompanham o progresso para nenhuma parte se coloca em confronto com os delírios progressistas de engenharia social e que conduziu a exageros ultraconservadores.
A fase pré-totalitária deste progressismo está a eclodir. Que Deus nos encontre confessados!

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