A opinião de ...

METAVERSO

Recentemente a minha filha mais nova comentava comigo a dificuldade em explicar à minha neta mais velha o conceito e utilidade dos Clubes de Vídeo que proliferaram desde meados dos anos 80 e se extinguiram, completamente, na primeira década deste século. Precisamente na altura em que, num anúncio de televisão, o Ricardo Araújo Pereira anunciava o que parecia ser mera ficção e que se banalizou em pouco tempo: a possibilidade de “parar” uma emissão televisiva, quando quisesse e retomá-la, pouco tempo depois, a partir desse momento.
Igualmente o que hoje nos parece pura fantasia, exagero de analistas tecnológicos ou bizarria de alguns fanáticos do mundo virtual, pode, com toda a facilidade fazer parte do nosso dia a dia, dentro de pouco tempo. Exatamente com os parâmetros atuais ou, porque não?, com as devidas adaptações. A probabilidade de concretização é tanto maior quanto mais elevado é, já, o investimento que as grandes empresas tecnológicas estão a fazer em determinados domínios e plataformas. Refiro-me ao Metaverso onde o dono do Facebook (que, e não é por acaso, mudou o nome da empresa detentora desta plataforma, para Meta) pretende acrescentar vários milhares de milhões de dólares aos muitos que já leva aplicados nesta tecnologia.

O certo é que muitos adeptos “vivem” uma segunda vida ou, melhor, uma parte da sua vida, dentro de uma realidade virtual que, em alguns casos, os condiciona de forma não negligenciável, para o bem e para o mal. As empresas envolvidas estão a criar um mundo artificial onde “vivem” e convivem entidades semelhantes aos seres humanos a que se convencionou chamara “avatar”. Isto não é novidade e já passou pelas salas de cinema uma película explorando este tema. Porém, essas entidades podem e começam a ser, cada vez mais ligadas aos seus “proprietários”, através do uso de sensores, visuais, auditivos, tácteis e sensoriais, cada vez mais sofisticados, de tal forma que o avatar e o humano se “confundem” em aspetos cada vez maiores e mais profundos. Tanto assim que há já alguns países a elaborarem códigos e leis de convivência, respeito, direitos e deveres para regularem a existência e vivência nesse ecossistema.
Esta tecnologia, aliada à cada vez mais desenvolvida e difundida Inteligência Artificial, permite já diagnósticos médicos seguros e, fala-se, abre portas para a própria intervenção, garantidos que estejam alguns elementos de segurança e fiabilidade. Mas também para abusos pois há notícias de ofensas que podem provocar danos psicológicos e até físicos.
Há porém quem garanta que esse caminho só será trilhado por uma minoria, obcecados com os jogos electrónicos e com tendência para, infantilmente, se refugiarem em mundos paralelos com o intuito de fugir à realidade.
O futuro no-lo dirá.
Porém aparecem já no horizonte novas profissões dedicadas a este tema, seja ele universal ou apenas um nicho de mercado. Contudo, em qualquer dos casos é necessário dar a devida atenção à protecção individual, à segurança e à integridade dos cada vez mais cobiçados dados pessoais.

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