A opinião de ...

Somos todos Africanos!

No passado dia 19 foram apresentadas, no auditório 3 da Fundação Calouste Gulbenkian, as Bolsas António Coutinho, patrocinadas pela Fundação Gulbenkian, através do IGC, pela Câmara Municipal de Oeiras e pela Fundação Merck. Estas bolsas destinam-se a promover as carreiras científicas de estudantes, investigadores e professores de Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. A atribuição do nome do maior investigador português deve-se não só à reconhecida homenagem da Gulbenkian ao anterior diretor do IGC e, antes disso, o diretor e promotor do que foi o mais inovador programa de doutoramento, em Portugal, o PGDBM (Programa Gulbenkian de Doutoramento em Bio-Medicina), iniciado em 1993, mas também pelo seu reconhecido interesse e trabalho em prol do desenvolvimento da atividade científica e formação doutoral no continente africano. Foi isso, aliás, que foi relevado pelos vários oradores na palestra de apresentação. Tomando a palavra o cientista de Sever do Vouga, entre outros assuntos relevantes, explicou a sua paixão por África. Está naquele continente a maior diversidade biológica do mundo. Tão grande que, agrupando todos os restantes continentes, apenas atinge trinta por cento daquela ali existente. Reafirmou a enorme importância da diversidade em contraponto à uniformidade: “Ao que é igual apenas pode competir; a cooperação está, naturalmente associada à diferença. Ora a competição não traz qualquer desenvolvimento. É cooperando que se avança, se progride, se melhora. É de tal forma evidente e foi já tão evidenciado pela história que carece de qualquer demonstração”. Isto é de uma relevância que ultrapassa largamente o universo científico. Numa altura em que assistimos ao definhamento das zonas de baixa densidade vemos dirigentes e responsáveis das instituições públicas a competirem entre si, em vez de procurarem cooperar. Provavelmente pela menor qualidade dos quadros diretivos, incapazes de interpretarem os verdadeiros interesses das populações e com um elevado deficit de diversidade, tão necessária como urgente.
Mas não só! António Coutinho também lembrou que África é o berço da humanidade. Estão ali os antepassados de todos nós. Afinal, há mais ou menos tempo, somos todos africanos. Qualquer diferença atual é infinitamente menor à esmagadora semelhança entre todos nós. Também esta afirmação extravasa para a sociedade, muito especialmente nos tempos que correm. Em boa verdade quando alguém manda um cidadão de descendência africana, para a terra dele, está a mandá-lo para a origem comum. É apenas uma questão de saber quantas gerações é preciso percorrer, no passado. E também quando energúmenos imitam símios para tentar ofender cidadãos de pele escura, mais não estão, afinal do que a mimetizar os antepassados comuns.

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