A opinião de ...

VERBO

 
O meu gosto pela leitura não chega para me transformar num fundamentalista. Nem todos os livros merecem, no meu modesto entender, mais que o desfolhar da capa e uma breve vista da contracapa. Há outros, porém, que uma só leitura não basta. É o caso do “Tempo de Fogo” do sendinês Amadeu Ferreira. Já escrevi aqui sobre o mesmo livro quando a primeira leitura me impressionou com o poder curador e redentor da palavra do frade mirandês, protagonista do romance. Nesta segunda leitura adensa-se a convicção de que o autor teria gravado, subtilmente, mas de forma indelével, a tese de que frei António da Santíssima Trindade foi condenado e executado não pela sua homossexualidade mas, precisamente, pelo dom da sua palavra. Foi esse poder que assustou os “pseudo-donos de Deus” como refere Teresa Martins no Jornal de Letras.
Na minha anterior crónica em que refiro este tema chamo a atenção para a sua importância pedagógica para os meios de comunicação social instando-os a ler e analisar o livro para cumprirem a sua missão de contrapoder. Nesta segunda leitura é ao poder, ao recém-eleito poder autárquico, que me dirijo recomendando igualmente uma distribuição de um exemplar por todos os vereadores e, sobretudo, por cada um dos deputados municipais. Foi de um recém-eleito deputado municipal que eu “recebi esta incumbência”. Numa reunião informal em que participei o jovem político expunha tudo o que desejava fazer para melhorar o concelho e a vida dos que o habitam. Sobretudo daqueles que nele confiaram entregando-lhe, com o voto, a responsabilidade de os representar. Questionava-me como o poderia fazer e qual o mecanismo para implementar, ou promover, todos os projetos que, em seu certo entender, muito contribuiriam para o desenvolvimento regional. Esclareci-o que a responsabilidade da implementação de programas e ações é da Câmara Municipal e não da Assembleia. “Então o que é que nós podemos fazer?” “Falar”, retorqui. “Só falar?” atirou-me incrédulo.
Falar não é pouco. Mas eu, confesso, pouco mais posso acrescentar, de forma convincente, para além da minha própria crença. Mas o Amadeu pode. Fá-lo de forma magistral e indelével. Por isso, muito mais que o que eu possa escrever aqui ou proclamar na Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo, pode ser apreendido, se lido com atenção, na história inquisitorial que Amadeu Ferreira com grande saber e mestria nos conta. 

Edição
3445

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