A opinião de ...

O Patrão

            Com origem na palavra latina “pater-patris” e na sua derivada “patronus-patroni”, patrão assume, entre outros significados, os de patrono e de protetor - o que nos autoriza a que possamos afirmar que se trata de alguém que protege (ou deve proteger), como um dedicado vigilante, procurando sempre o bem das pessoas que com ele convivem - no caso e numa situação mais específica, aquele que mantém ou se vê obrigado a manter com o seu trabalhador as melhores relações laborais, supostamente para bem de ambos. Por conseguinte, não é difícil concordar com a necessidade de um bom entendimento entre um e outro.
            No entanto, não raramente acontece que, no decorrer dessas relações laborais, surjam desentendimentos: ora porque o empregado, cada vez mais especializado, entende que o seu trabalho gradualmente tem vindo a tornar-se mais exigente, mais pesado e na sua perspetiva, mais produtivo - o que o leva a requerer maior atenção da parte da entidade empregadora para reconhecê-lo como pessoa responsável e competente; ora porque aquela entidade entende que, pelo contrário, embora reconheça o maior esforço da parte do trabalhador, não se sente satisfeito com a mais-valia que resulta desse esforço. Dois pontos de vista aparentemente insanáveis, daí resultando a necessidade de negociações.
            Naturalmente, todas as negociações deverão decorrer num clima de confiança e de seriedade mútuas.
            Tanto um lado como o outro deverá apresentar as razões que o levam a sentar-se à mesma mesa; e tanto um como outro não pode levar para lá uma posição intransigente, perante a qual não é possível haver negociações.
            Geralmente o trabalhador, ao mesmo tempo que exige a valorização da sua melhor contribuição no negócio do empregador (normalmente traduzida no aumento de vencimento e de melhores condições de trabalho inerentes à singularidade do mesmo), aguarda que o patrão apresente as suas propostas.
            Consideradas ambas as posições, se elas forem irredutíveis, deixa de haver negociações. Viram-se mutuamente as costas e cada um caminha em linha reta, até que um deles não consiga ultrapassar o muro que se lhe apresentar à frente. Vem a greve e aparecem os protestos. O trabalho pára; e parado, não há produção. Se não houver produção, o negócio vai contabilizar perdas. Se houver perdas, o patrão tem menos possibilidades de aumentar - se não deixar de pagar ao empregado - e este não terá condições para o seu sustento e o sustento da família.
            O negócio assim parado vai traduzir-se na falência para o patrão e no desemprego para o trabalhador.
            Este exemplo, natural e virtualmente considerado, não deixa de, sem esforço, levar a concluir que, se tivesse havido negociações razoáveis, os resultados teriam sido diametralmente opostos. Ao haver cedências de parte a parte, devidamente fundamentadas e defendidas como boas, o negócio certamente havia de prosperar, pois o empregado iria trabalhar com mais gosto e, naturalmente, contribuindo para melhores resultados.
            Não funcionou aqui a boa relação patrão-empregado: o patrão deixou de proteger, deixou de ser patrono - proteção rejeitada, aliás, pela outra parte.           
Assim colocado este assunto, fico a pensar nos inumeráveis desentendimentos que a cada passo acontecem entre o patrão e o empregado, assim como nas consequências que acarretam – quase sempre as greves; e, por elas, não só a diminuição da produtividade e consequente retrocesso na economia, como ainda a perturbação social.

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