A opinião de ...

“Vinho novo em odres novos”

Não é fácil adaptar a maioria das nossas igrejas – com uma arquitetura barroca, orientada para os fiéis assistirem às celebrações sagradas – às exigências da liturgia renovada do Concílio Vaticano II. Da mesma forma que é difícil manter uma coerência de linguagem nas novas igrejas, construídas recentemente, como é o caso da Catedral de Bragança
D. José Cordeiro, ao longo destes dois anos, que está à frente dos desígnios da Diocese de Bragança-Miranda, tem introduzido na Sé, a igreja da sua cátedra, novos elementos, mantendo a coerência de uma linguagem contemporânea, mais adequada à arquitetura do edifício. Alguns têm merecido um maior realce, outros passam quase despercebidos.
A Pietá e os vitrais do Mestre José Rodrigues tiveram um merecido destaque na comunicação social. Recentemente, foi colocada mais uma escultura do mesmo artista, alusiva ao Sonho de S. José. Qualquer uma das obras, para além de outros motivos, justifica uma visita à Catedral de Bragança.
No domingo passado, na ordenação de mais um sacerdote e um diácono, foram utilizadas, pela primeira vez, uma nova cruz processional e um novo báculo. Ambas as peças foram elaboradas a partir de uma cruz peitoral, oferecida ao Bispo Diocesano, numa visita ao Centro Social e Paroquial de S. Eufémia da Lavandeira, Carrazeda de Ansiães. Estes novos elementos dialogam perfeitamente com o ambiente contemporâneo que D. José tem vindo a dinamizar na Catedral. Mas, realçam a dissonância de outros objetos litúrgicos, como sejam os castiçais ou o turíbulo do incenso, oriundos de outras épocas. Talvez esteja errado e seja essa a veste adequada ao mestre cerimónias, mas parece-me que uma batina preta, com sobrepeliz e uma estola, ainda que belíssima, mas de séculos passados, entra em conflito com os restantes elementos, que transmitem a frescura de uma linguagem, outra.
Ainda muito há a fazer para manter essa coerência de linguagem na Catedral de Bragança e conseguir a harmonia entre arquitetura, alfaias litúrgicas, paramentos, imagens e os vitrais, que ainda estão por executar, provavelmente a aguardar melhores dias. Mas Roma e Pavia não se fizeram num só dia. Vamos dar tempo ao tempo e esperar que D. José Cordeiro permaneça na nossa diocese o tempo suficiente, para continuar a desenvolver este caminho de renovação numa feliz conjugação de todos os elementos litúrgicos.

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