Analistas surpreendidos com dimensão da derrota do PS

O antigo assessor de comunicação Luís Paixão Martins e o economista Paulo Reis Mourão aceitaram fazer uma análise destas eleições para o Mensageiro e ambos convergem num ponto: a surpresa causada pela dimensão da derrota do Partido Socialista.
“Os indicadores disponíveis e a observação empírica da campanha permitiam antecipar que os nossos dois partidos centrais iam falhar os seus objetivos: a AD de conseguir uma melhor solução governativa com maioria absoluta sozinha ou com a IL e o PS de triunfar e ser convocado para formar governo. O que surpreendeu foi a dimensão do falhanço eleitoral do PS, com um resultado dos piores da sua história, e o crescimento do Chega, que passou a ser o partido da direita mais votado a sul do Tejo. Tal significa um domínio absoluto da paisagem eleitoral pela direita, com a AD no norte e centro e com o Chega no sul, e a eliminação do domínio eleitoral dos dois partidos centrais da nossa democracia - PSD e PS”, disse Luís Paixão Martins.
Por sua vez, o economista Paulo Reis Mourão também sublinhou esse aspeto: “A derrota do PS foi o mais surpreendente. Foi uma derrota de tal magnitude que neste momento pode colocar o PS atrás do Chega”, afirmou.
O economista Paulo Reis Mourão diz ainda que “os mercados reagem com a incerteza habitual” a períodos eleitorais, mas que agora espera alguma acalmia. “Obviamente depois da constituição de um Governo, os mesmos mercados tenderão a olhar para o investimento em Portugal assim como para a dívida pública nacional com outra atenção”.
Também investigador e docente universitário, Paulo Reis Mourão espera que a estabilidade política traga uma melhoria das condições económicas no Nordeste Transmontano.
“De acordo com o IETI [Índice de Economia de Trás-os-Montes e Alto Douro], o ano não começou simpático para a região, registando-se valores homólogos negativos, o que mostra uma dinâmica inferior à de um ano. Esperemos que a estabilidade política possa trazer algo mais para a região. Em tempos, num artigo de opinião, mostrava que a região e o interior estavam muito longe das atenções de Pedro Reis. Pode ser que com novo Ministério/Ministro, a região receba mais investimento e tenha um dinamismo diferenciado”, frisou.
Contudo, Paulo Mourão antevê tempos difíceis.
“Os próximos tempos, com base nos indicadores disponíveis, não são muito simpáticos, para lá da incerteza internacional. Parece-me que reformas importantes nalguns setores específicos serão tomadas, uma nova leitura da lei laboral também será alçada, bem como, em função do apoio parlamentar ou da solidez perspetivada para o futuro, algumas medidas mais duras/reformistas podem vir a caminho”, explicou.
Outra surpresa, do ponto de vista deste investigador, foi o resultado de Ana Paula Martins, cabeça de lista da AD por Vila Real. A Ministra da Saúde teve um mandato conturbado. “Foi uma vitória da AD algo surpreendente em termos distritais pois Ana Paula Martins tinha tido um dos desempenhos mais expostos do I Governo de Montenegro e concorria contra um cabeça de lista muito experiente e “do distrito”. A vitória por 3-1-1 da AD em Vila Real acompanhou o sentimento nacional, mostrando que os eleitores olharam mais para Montenegro e para a globalidade do Governo do que para cada Ministério em particular. De qualquer modo, o efeito local e as divisões internas da distrital socialista penalizaram Rui Santos também”, concluiu.