Vimioso

‘Padrão Missionário da Boa Nova’ revela as memórias de antigos seminaristas

Publicado por GL em Sex, 2024-08-23 16:07

O relato das memórias de antigos seminaristas é o centro do livro “Padrão Missionário da Boa Nova”, da autoria de António Padrão & Cia, apresentado durante o Encontro Anual ARM-Associação de Ex-Seminaristas, no passado domingo, que teve lugar em Campo de Víboras, no concelho de Vimioso. “Há um ano que estava a escrever este livro, desde a inauguração do Padrão, o monumento que está nesta aldeia. Com o livro pretendo homenagear todos os antigos seminaristas que estiveram nas missões, todos os nossos formadores, as nossas vivências e o sermos gratos pela formação que nos passaram durante o tempo que estivemos no seminário”, revelou António Padrão ao Mensageiro.

Com introdução feita pelo antigo presidente da Câmara Municipal de Miranda do Douro, Artur Nunes, que também forneceu um testemunho, bem como outros ex-seminaristas, como o António Emílio Pires, mais um trabalho académico e científico de D. António Montes Moreira, bispo emérito da Diocese de Bragança-Miranda.

‘Padrão Missionário da Boa Nova’, nasceu do desejo de mostrar a gratidão pela educação e formação recebida pelos ex-alunos que passaram pelos seminários das Missões da Boa Nova e outros. Em simultâneo o livro é também a memória de tempos mais duros, nas décadas de 60 e 70, em que a falta de escolas preparatórias e secundárias públicas no interior, obrigava os jovens a deslocar-se para longe da terra natal e da família. “Naqueles tempos os jovens destas regiões não tinham muitas hipóteses para estudar. A única hipótese, para muitos, era ir para os seminários. Fazíamos viagens atribuladas. Com 10 anos, não sabíamos para onde íamos, entravamos no seminário, uma casa tão grande e ficávamos assustados”, recordou António Padrão. Muitos desses alunos acabaram por não terminar a formação com vista ao sacerdócio, mas os ensinamentos cristãos ficaram-lhe incutidos na forma de estar na sociedade. “Os nossos pais iam recebendo os bilhetes dos padres a dizer que haviam feito tudo para que ele fique no seminário, mas ele não quer”, recordou Padrão.

Ainda assim, a vivência em comunidade é inesquecível. “As amizades que fazíamos e as vivências compensavam as dificuldades todas. O bichinho ficou cá e tenho necessidade de transmitir esses valores. O bichinho da missão e isso faz de nós homens diferentes na sociedade”, vincou o autor que ingressou no seminário em 1973, esteve dois anos em Cucujães (Oliveira de Azeméis), depois foi para o seminário de Cernache do Bom Jardim (Sertã) onde permaneceu quatro anos. “No 10º ano, após a Páscoa tinha de voltar, mas eu adiei a viagem por um dia. Começou assim a minha saída do seminário”, referiu António Padrão que conserva os valores da ajuda ao próximo e no próximo ano quer ir fazer uma missão a Angola ou Moçambique. “Com a idade vamo-nos percebendo melhor e depois de ter entrado nessa aventura de me conhecer melhor a mim mesmo, através da Filosofia estoica, hoje sei quem sou, para onde quero ir. Gostava de ir dar o meu tempo aos outros. Posso ser professor, educador social, interagir com aquelas comunidades e transmitir as minhas vivências”, descreveu.

Para além disso os seminários desempenharam um importante papel social pela quantidade de pessoas que instruíram. “Muitos que estão à frente de instituições neste país, no nosso distrito e no nosso concelho foram formados nos seminários, que tinham o condão de formar homens e quadros para a sociedade”, acrescentou António Padrão.

Também presente na apresentação do livro, o padre Farias destacou “o testemunho muito grande que se deixa para as próximas gerações”, além de que “é uma forma de reviver o passado e nós vivemos da história”. Ainda assim, considera que o livro é uma forma de empenho para que a partir daqui os envolvidos no projeto “assumam o seu compromisso ao serviço do bem e do reino de Deus”.

A ação missionária está em cinco países, nomeadamente em Angola, Moçambique, Japão, Brasil e Portugal. A falta de vocações sente-se principalmente na Europa.

“Passamos por uma crise de identidade religiosa e de fé. Estamos ainda a passar esse momento doloroso, mas creio que podemos estar numa mudança de ciclo e de época. Temos o exemplo de vários países. Na diocese de Boston (EUA) onde houve mais problemas na história recente, é hoje uma inovação, onde centenas de rapazes e raparigas, já universitários, decidem entregar a sua vida ao serviço de Deus. França é outro exemplo. No ano passado estiveram em Portugal jovens de todo o mundo [na Jornada Mundial da Juventude] os franceses distinguiram-se pela fé e testemunho que deram”, observou o Pe. Farias.

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