Diocese de Bragança-Miranda

Um ano depois da Jornada Mundial da Juventude, há sementes que germinam no Nordeste Transmontano

Publicado por António G. Rodrigues em Sex, 2024-07-26 12:04

Faz esta sexta-feira um ano que arrancaram as pré-jornadas, com atividades em todas as dioceses na semana que antecedeu a Jornada Mundial de Juventude, em Lisboa. Um ano depois, alguns dos intervenientes e participantes, garantem ao Mensageiro que houve sementes que ficaram e que podem dar fruto. Mas há muito trabalho ainda por fazer no seio da Igreja para aproveitar a experiência de Portugal ter acolhido 1,5 milhões de pessoas durante uma semana e a própria presença do Papa Francisco.

“Acho que mudou alguma coisa. Ficou, pelo menos, uma semente em todos aqueles que participaram, e que foram muitos. Aqui em Vila Flor tivemos dois grupos de polacos muito interessante. Ainda existem pessoas que acreditam nos mesmos valores que nós”, disse ao Mensageiro Pedro Lima, presidente da Câmara de Vila Flor, concelho que, há um ano, acolheu um grupo de peregrinos polacos.

“A expectativa no ser humano é que as mudanças sejam muito rápidas e radicais. Mas as mudanças têm de ser naturais e sustentadas. Têm que e ir sustentando a cada degrau.

Tenho a certeza que o impacto de 1,5 milhões de pessoas no nosso pequeno país é inevitável. A energia e a fé que essas pessoas trouxeram ao nosso país não vai ficar indelével. Nem os que criticavam ficam indiferentes”, frisou.

Ao longo de uma semana, a diocese acolheu cerca de 800 jovens de várias nacionalidades, com destaque para um grande grupo de espanhóis (cerca de 600), que desenvolveram contactos e atividades um pouco por toda a diocese.

Um dos locais de passagem do grupo foi a aldeia de Pinela. O presidente da Junta, Alex Olivier, sublinha que, embora ténues, houve algumas mudanças desde então.
“A Jornada coincidiu com período de mudança de bispo na diocese. Foi um momento marcante para a freguesia. Os nossos jovens ficaram sensibilizados. O ponto mais alto é a aproximação da nossa Associação Cultural e Recreativa com a Igreja. Ao contrário do que acontecia anteriormente, agora promovem concertos na igreja e isso contribui para a aproximação dos jovens”, frisou.

Símbolos ainda presentes

O próprio Pedro Lima revela que ainda hoje usa os símbolos da JMJ no seu dia a dia.

“Continuo a usar as pulseiras das jornadas e o terço continua a ser a minha ferramenta diária. A simbologia continua presente. Nos dias de incerteza que vivemos, onde a guerra volta a ser um tema da ordem do dia, algo inacreditável para nós que somos da geração da paz, é inacreditável”, apontou.

Por isso, considera que a JMJ deixou “uma marca que é impossível de refutar”. “Mas evidentemente não se transformou da água para o vinho. Não somos Deus mas podemos contribuir com a nossa ação continuada para uma melhoria da nossa condição e da condição dos que nos rodeiam”, lembrou.

No seu município, ao longo deste ano já notou mais abertura dos jovens para o voluntariado. “Como município, já tomámos outras medidas ao longo do tempo e não será fácil identificar o que se deve a quê. Lançámos as bolsas universitárias. Este ano tivemos uma expressão significativa de voluntariado durante a Expovila, onde os nossos estudantes participaram de forma alegre e significativa, sendo que alguns deles participaram nas jornadas.

A nossa vida é um conjunto de vetores e de estímulos que nos motivam a caminhar em determinada direção.

A JMJ tem um marco significativo em Vila Flor. Quando recebemos os símbolos da Jornada no santuário, tivemos a presença de D. Amílcar, que não nos deixa indiferentes. Tudo isso foi significativo para o território de Vila Flor, mesmo que não nos apercebamos no imediato.

Tudo contribuiu para que Vila Flor seja um concelho mais aberto”, realçou.

O autarca de Vila Flor recorda que estiveram “um milhão e meio de pessoas juntas e nem um distúrbio”. “Imagine-se se fosse num jogo de futebol. Sinceramente, eu assisti a isso e interpretei. Outros assistiram e assimilaram.

Nestes meandros de guerra, vai ser mais um elemento a contribuir para a continuada pacificação de Portugal.

Estive uma hora e meia na fila para entrar e não houve uma altercação, o mínimo empurrão, tentativas de ultrapassagem. Pelo contrário, houve uma união e comunhão.
Vi pessoas com vontade de estarem ali e de se unirem em volta de um mesmo valor, o catolicismo”, frisou.

Já nos escuteiros, um dos grupos que serve de referência na juventude, Miguel Salgado, Chefe do Agrupamento XVIII à data da JMJ, admite também algumas mudanças. “Temos sido mais tolerantes no acolhimento. Nesse sentido, mudámos. Deixámos de ser tão dogmáticos e rigorosos numa primeira fase”, explicou.

Por outro lado, apesar de não se notar muito, reconhece que na faixa dos 10 aos 14 anos, o agrupamento foi mais procurado por jovens. “Dos 14 aos 18 não tivemos entradas de fora. Tivemos dos 10 aos 14. Diria que foi quase metade do acrescento nessa faixa são de miúdos de fora (que não eram escuteiros). Por exemplo, tivemos sete entradas novas, o que não é muito normal. Entram dois, três por ano, normalmente”, admite.

Ainda assim, reconhece que a expectativa era que houvesse um impacto maior. “Tinha a expectativa de isto ter sido tão aberto, tão para todos que os jovens pudessem olhar para os grupos que existem e até sentirem-se motivados a criar outros grupos”, disse.

Já Paula Pimentel, vice-presidente da Fundação Betânia e presidente da União das IPSS do distrito de Bragança, admite que a instituição à qual está ligada recebeu mais visitas de jovens nos últimos tempos.

“A JMJ trouxe sangue novo. Ao longo deste ano, participámos em todas as dinâmicas do Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil Vocacional.

Internamente, participámos em todas as dinâmicas que o Secretariado envia. Nós, Fundação, somos muito visitados por jovens. Já éramos antes mas este ano ainda fomos mais”, sublinhou.

Para a Ir. Conceição Borges, Diretora do Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil Vocacional, “a dinâmica da JMJ imprimiu a sua marca única nas nossas vidas”. “Os Dias nas Dioceses, que vivemos entre os dias 26 e 30 de julho de 2023, ajudaram-nos a respirar o perfume da esperança nos jovens de hoje, o “hoje da Igreja”. Na nossa diocese acolhemos cerca de 800 jovens de vários países”, recordou.

Ao Mensageiro, sublinha que este evento deixou marcas profundas, sobretudo nos que o viveram de mais perto.

“Teremos sempre um sentimento de gratidão por quantos se envolveram nesta dinâmica ímpar de acolhimento, na certeza de que “ganhamos muito mais do que aquele pouco que demos”. Os laços que foram construídos entre as comunidades eclesiais, a disponibilidade e colaboração das instituições e das várias autoridades civis foram inequívoca expressão de que é possível trabalhar em equipa (sinodal) quando o bem comum é o maior objetivo. A disponibilidade da equipa de voluntários espalhada pela diocese, a 24h por dia, deixou sementes que vão germinando num compromisso nas suas comunidades e vários serviços. Valemos pela capacidade de nos darmos, mesmo em ambientes por vezes adversos e cheios de contrariedades. Cheguei a receber 200 chamadas por dia, sempre num clima de disponibilidade alegre de uma equipa que se envolveu ao máximo, com criatividade e espírito de missão. Fica a certeza de que Deus conduz e nos faz superar, em conjunto, limites que nunca imaginamos. Ainda hoje, respiro a beleza de podermos acolher os sorrisos e as esperanças dos vários jovens que rezaram, serviram e caminharam nas nossas terras e nas nossas comunidades”, relatou.  

 

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