Vila Boa mantém tradição no Entrudo com celebração autêntica e lançamento de obra literária

Alguns Entrudos em Portugal conservam ainda traços ancestrais, escapando às tendências recentes de turistificação e massificação. Vila Boa, no concelho de Vinhais, é um desses exemplos, onde a espontaneidade e autenticidade continuam a definir o ritmo dos festejos carnavalescos que culminaram com a queima do Entrudo e, noite dentro, os tradicionais “Casamentos”.
Na véspera do dia de Entrudo, protagonizado pelas emblemáticas figuras dos “máscaras”, “marafonas” e “madamas”, teve lugar um evento cultural organizado pela Associação Desportiva e Cultural de Vila Boa, cujo responsável é o artesão Tozé Vale, que decorreu na sede da Junta de Freguesia.
O espaço foi cuidadosamente preparado para recriar uma antiga cozinha rural, com uma iluminação ténue que evocava o tempo das candeias ou dos velhos candeeiros de petróleo, criando um ambiente acolhedor e intimista. A comunidade reuniu-se em grande número para assistir a atuações de cantares tradicionais, interpretados por um grupo de jovens da terra, e à dramatização de um antigo texto, por dois jovens com raízes na aldeia, que, segundo registos, já tinha sido representado na década de 1960.
Um dos momentos altos da noite foi o lançamento do livro “Era uma Vez…”, da autoria de José Vale, natural de Vila Boa. Embora tenha deixado a aldeia há várias décadas, o autor regressa sempre que possível, à semelhança de muitos membros da comunidade da diáspora. A obra oferece um retrato detalhado do quotidiano da população, com base nas memórias do autor, perpetuando formas de vida tradicionais ligadas ao trabalho e ao lazer. A narrativa, pontuada por localismos e regionalismos, explicados num glossário que remata a obra,conduz o leitor numa viagem ao passado do mundo rural.
O livro, que conta com ilustrações de Victória Vale, também natural da aldeia, e com prefácio de Roberto Afonso, está organizado cronologicamente, respeitando os ciclos agrários e as festividades religiosas e profanas ao longo do ano, como se do diário do autor se tratasse.
Editado pela Associação Desportiva e Cultural, é mais um exemplo da sua vitalidade e dinamismo que tem sido responsável, também, pela manutenção do numeroso grupo de “máscaras” (caretos) de Vila Boa.