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A Economia III – A feira de mês

As feiras mensais faziam-se sempre nos mesmos dias do mês, como hoje. Só avançava ou atrasava se calhava ao fim de semana. Eram o local onde todos se deslocavam para comprar e vender tudo que fosse transacionável. Macedo: 6, 8, 9 isto é 6, 18 e 29 de cada mês.
Acorria muita gente das aldeias. De madrugada já se viam carreiros de gente nas estradas, a pé ou de carroça, a caminho da feira. Crianças pequenas vinham com as mães, as mais novas ficavam com irmãos ou avós, em casa. Não havia creches. Um ou outro grupo trazia um porco para a feira. Tinham uma corda presa à pata traseira e andavam na frente do grupo com surpreendente ligeireza, tocados por um rascalho. Nunca consegui perceber como conseguiam fazê-los caminhar de forma tão ordeira, logo porcos, que são ariscos. Os porcos e a criação eram assunto das mulheres, os homens lidavam com o gado maior.
O largo da feira enchia-se cedo com gente a vender todo o tipo de produtos, quase só da época, variando, portanto, o seu tipo, ao longo das safras. A zona dos alimentos estava separada dos restantes bens não alimentares. A feira dos alimentos era predominantemente composta por mulheres. Por vezes traziam um banco ou uma tripeça e colocavam as cestas e canastras à frente, com os produtos em venda. Couves penca, tomate coração de boi, cenouras, cebolas, alfaces ou gradura muito variada estavam expostos nas cestas ou nas canastras, às vezes separados por folhas de couve. Outras canastras tinham galinhas com as asas presas por fios, que passavam por baixo das asas. Coelhos, às vezes em gaiolas de rede ou então em canastras com lonas cozidas às bordas para evitar a fuga. Na primavera vendiam-se as plantas já preparadas para plantio. Tomateiros, couves, pimentos, também frutos secos: castanhas, nozes, amêndoas…. As crianças iam abondando as coisas, ajudavam as mães. Alguns desperdícios iam-se acumulando, folhas velhas de couve, palha do fundo das canastras, para que a fruta não ficasse tocada, restos diversos dos vários produtos. Os cães que os acompanharam da aldeia estavam por ali, a dormir à sombra ou debaixo de algum abrigo, se fosse inverno. Os porcos estavam separados no limiar do largo. Esta feira não tinha toldos, levavam os sombreiros, os xailes e os lenços. Longe das comodidades da geração tupperware, o comer era a seco. Pão e o que se produzia em casa, que não dava para restaurantes. Queijo, presunto, figos, fruta e bacalhau seco, para roer. Nesse tempo era barato.
Mais ao lado já havia tendas. Eram os profissionais das feiras. Corriam as feiras dos concelhos à volta, levando produtos como calçado, roupa, ferramentas agrícolas, utensílios da lareira, facas e navalhas, marras, serras, talhas de metal, caldeiras, gravanos e muitas outras coisas.
Os barros eram outra mercadoria presente, mas misturados com louçaria, travessas em latão, alguidares e talhas de barro, para o azeite, o fumeiro e os queijos.
Algumas destas vendas eram dos comerciantes da vila, que buscavam atingir mais clientela.
No fim da feira faziam-se as compras na vila, do que não havia na feira, e era já necessário ir embora, pois regressava-se a pé.

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