A opinião de ...

Um país em contingência

O alerta foi lançado nas páginas do Mensageiro de Bragança logo no início do ano. A falta de médicos obstetras estava a obrigar o hospital de Bragança a transferir, em alguns dias, grávidas para o hospital de Vila Real, a 130 quilómetros. Uma distância que ainda é maior relativamente a outros concelhos, como Vimioso, Miranda do Douro, Mogadouro ou Freixo de Espada à Cinta.
Na altura, algumas vozes críticas se levantaram contra o Mensageiro por ter trazido essas dificuldades à estampa, até porque o assunto foi tema da campanha eleitoral das Legislativas depois de um líder partidário ter lido a notícia no jornal, quando parou num dos cafés de Bragança durante uma ação de campanha.
A questão é que a atualidade não para por conveniências partidárias nem os jornais devem abster-se de denunciar o que está mal só porque não convém a determinado partido no poder.
O alerta foi ignorado na altura e continuou a fazer-se de conta que este não é um problema de fundo, com vários anos e transversal a várias especialidades.
Mas, agora que a situação começou a soltar-se pelas costuras noutros hospitais do país, nomeadamente na Grande Lisboa, já passou a ser um assunto nacional e a Ministra da Saúde já foi chamada ao Parlamento para dar explicações.
Foi mesmo criada uma situação de contingência para fazer face, temporariamente, a estas dificuldades.
Mas esta solução não é mais do que combater uma doença grave com uma aspirina. Pode aliviar momentaneamente um ou outro sintoma mas não resolve o problema de fundo.
E o problema de fundo é a falta de médicos e a incapacidade de formar clínicos em número suficiente para dar resposta à população.
E, aí, as associações sindicais dos médicos e a própria Ordem têm muitas culpas no cartória pelos impedimentos e obstáculos que levantam sempre que se fala em abror mais faculdades de medicina.
O objetivo é controlar o mercado, manter a oferta abaixo da procura de forma a que os preços pagos a estes profissionais sejam inflacionados. Um pouco à semelhança do que acontece com os combustíveis.
É preciso coragem governativa para enfrentar estes centros de poder secundários porque, em último caso, é o interesse público e das populações que está em causa.
Nada melhor do que um Governo maioritário para resolver o problema. Haja coragem para o fazer, desde já, sob pena de a situação só se agravar pois nos próximos anos continuar a ser esperadas diversas aposentações.

Edição
3888

Assinaturas MDB