A opinião de ...

Ainda o programa “mais (?!) Habitação”

Concluído o tempo de discussão pública, o governo divulgou uma versão recauchutada do programa “Mais Habitação”, tentando desesperadamente fazer passar a ideia de que, passados tempos sem fim, sem que nada fosse feito para resolver a grave crise de habitação com que o país de debate, estava finalmente desvendado o segredo para dar a todos os necessitados deste bem essencial a casa dos seus sonhos, a que, de resto, todo o ser humano tem direito.
Porém, e lamentavelmente, porque a realidade é bem outra e nunca deve confundir-se com qualquer miragem, o certo é que, por mais boa vontade que se tenha e por mais esforço que se faça, se constatou que, no essencial, tudo se resumiu a uma mera manifestação de intenções sem conteúdo e vazia de ideias, a única praia em que o governo é mesmo muito bom e na qual se movimenta com rara mestria, sem a mínima viabilidade de execução, dando plena razão, mais uma vez, ao velho e avisado ditado popular: “Quem torto nasce, tarde ou nunca endireita”, esquecendo-se de que, num país livre como o nosso, cada um só pode mandar no que é seu.
É esta maneira demagógica e simplista de encarar a realidade, que afunda em trapalhada atrás de trapalhada o atual governo de maioria, incapaz de se libertar da sua tendência atávica e incorrigível de não estudar os assuntos da governação em todas as suas vertentes pelo que, quando se sente o terreno a fugir-lhe debaixo dos pés, para proteger a sua imagem perante a opinião pública, como acontece atualmente com a crise da habitação, apoiando-se na poderosa máquina publicitária de que dispõem, se desdobra por tudo quanto é sítio fazendo a apologia dos eus méritos e virtudes, oferecendo até casas, com a mesma facilidade com que se oferecem canetas ou bonés nas arruadas das campanhas eleitorais.
É inquestionável que ter casa é uma necessidade e um direito de todo o cidadão pelo que, havendo por aí tantas casas desocupadas como se diz e tanta gente a precisar delas, eureca, está resolvida definitivamente a carência de habitação, bastando apenas pegar nas chaves e distribui-las generosamente a quem precisar de casa, segundo as necessidades e os gostos e as preferências de cada um.
Mas, infelizmente, as coisas não são bem assim, porque as casas que há têm dono e um problema desta magnitude, pelas gigantescas questões que levanta, nunca poderá ser resolvido, com a habitual leviandade e amadorismo, com que o governo pretende fazê-lo, correndo sérios riscos de acabar tudo num gigantesco fiasco capaz de afundar o país numa situação bem pior que a atual.
Afinal, será disto que o país precisa? Sinceramente, julgo bem que não.

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