A opinião de ...

O TRAVO AMARGO DAS AMENDOAS DE MAIS UMA PÁSCOA, NO PAÍS DO “FAZ DE CONTA”

Não se sabendo se por fadário ou maldição, o povo deste nosso país à beira mar plantado, eleições após eleições e governo após governo, à medida que o tempo vai passando, parece estar cada vez mais conformado, satisfeito e contente consigo próprio e com as condições de vida que leva, ao nível da mediania da sua vontade e da sua falta de ambição, com que se conformou e habituou a conviver, optando por enfrentar os desafios e as dificuldades do dia, não em função de como elas são, mas” fazendo de conta” que elas são como lhe convém a ele que sejam.
Assim, neste modo de pensar e de estar, para não ser confrontado nem incomodado com a dura realidade das coisas e das situações, obviamente que será sempre mais cómodo, fácil e agradável, para dormir bem descansado, continuar a “fazer de conta” que não se passa nada.
Fazer de conta que o número de famílias a precisar de ajuda para pagar a renda de casa não subiu e que há cada vez mais famílias que, para pagarem a renda, têm de cortar nas despesas com os medicamentos e a alimentação.
Fazer de conta que, em apenas três anos, não foram registados 5.000 crimes de abusos sexuais sobre menores, 38% dos quais praticados pelos pais em ambiente familiar.
Fazer de conta que no passado dia 19 de março 2 342 doentes, depois da alta hospitalar, pura e simplesmente, porque não tinham para onde ir, permaneciam nos hospitais, em média cerca de cinco meses, complicando fortemente a capacidade de internamento de muitos outros doentes a precisarem de internamento urgente e inflacionando a despesa do Serviço Nacional de saúde em cerca de trezentos milhões de euros.
Fazer de conta que Portugal não é um dos países da União Europeia com uma das mais baixas taxas de classificação no emprego, em consequência da qual, segundo os números divulgados pelo Eurostat, que nos deviam fazer corar de vergonha a todos, 32.3% dos trabalhadores portugueses têm apenas habilitações ao nível do ensino básico.
Fazer de conta que os problemas e as dificuldades com que, desde há décadas, se confronta o Serviço Nacional de Saúde, como tentam passar para a opinião pública as estruturas representativas da classe médica e profissões afins, é tudo uma questão de falta de atratividade das diversas profissões que o integram.
Os senhores doutores que desculpem mas, salvo melhor opinião, este diagnóstico, se não foi feito à medida, pelo menos parece, e merecia ser sustentado por um número robusto de auxiliares de diagnóstico.
Nesta linha de ideias, atenção ao elevado número de candidatos que continuam interessados no curso de medicina, um curso longo, exigente e caro que custa tantos milhões aos cofres do estado, cuja procura continua a crescer e é de tal forma elevada que, por mais universidades de medicina que continuem a abrir, não é de esperar que nos tempos mais próximos possa haver vagas para todos, situação esta, à semelhança de várias outras, a merecer uma atenção muito especial.
Quererá isto dizer alguma coisa, ou será que não é bem assim?
(continua)

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