A opinião de ...

A outra face da invasão da Ucrânia - 1

Mal foi iniciada a invasão da Ucrânia pelas tropas de Moscovo, não restou qualquer dúvida de que seria muito difícil, se não mesmo impossível, prever a sua duração, quantificar os danos e criar as condições indispensáveis para proceder à sua reparação, identificar e culpabilizar os responsáveis por esta tragédia dantesca que se abateu sobre este país, situação que, como tudo indica, corre o risco de se eternizar, perpetuando por muito tempo o sofrimento dos milhões de vítimas que, direta ou indiretamente, foram atingidas por ela.
Contudo, como é fácil de perceber, os danos visíveis causados ao povo mártir da Ucrânia, mesmo sendo duma grandeza astronómica, não se cingem à destruição irracional das estruturas produtivas e outras, nem são comparáveis à tragédia dos milhões de mortos, militares e civis inocentes, tanto dum lado como do outro das trincheiras, pela fúria iconoclasta e pela sanha assassina desse antigo responsável psicopata e alucinado da KGB que, depois de se ter tornado o dono e senhor absoluto da Rússia, ainda não plenamente satisfeito, sonha reconstruir o antigo império da Rússia, utilizando-o depois com trampolim para se alcandorar à gloria de grande imperador e senhor dos tempos modernos.
Como em todas as guerras, sejam quais forem as suas causas, para além da sua fase visível, que começa com a abertura das hostilidades e termina quando os seus contendores se entendem ou desistem de lutar, também esta invasão, que ameaça prolongar-se para além de todas as previsões, muito mais que pelos danos materiais visíveis provocados pela devastação selvagem das tropas invasoras, às ordens do Sr. Putin, e pela morte de milhares dos seus cidadãos, irá comprometer seriamente e por muitos anos o futuro da Ucrânia como nação livre e independente, com as consequências devastadoras sobre a vida de todos os seus cidadãos, extensíveis, por arrastamento, a toda a humanidade.
É que, bem mais difícil do que a tarefa de reconstruir as cidades e todas as outras estruturas selvaticamente arrasadas, tarefa já de si nada fácil, vai ter de ser reconstruídas, em toda a sua dignidade e plenitude, as vidas de cada um dos seus milhões de habitantes, destruídas e reduzidas a escombros, só porque cometeram o crime de quererem ser um povo independente e viver em paz a sua condição de homens livres, condições destroçadas por esta guerra cruel , sem respeito pelo sofrimento dos milhões de inocentes que, depois de assistirem ao ruir de todos os seus sonhos, ao aniquilamento das suas famílias e à destruição e pilhagem dos seus bens, foram obrigados a pegar em armas para defender a paz, a liberdade, e a independência da sua pátria ou, para garantirem a sua segurança e a segurança dos seus, abandonando as suas famílias, os seus haveres, as suas casas e as suas terras fugir para o desconhecido em viagens sem retorno à vista, coagidos à situação humilhante de viverem na insegurança da solidariedade alheia.

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