A opinião de ...

A propósito de um lamentável rol de despropósitos

Não restam dúvidas de que este “sítio,” que ainda continuam a chamar Portugal, está cada vez melhor e, para esclarecimento de quem duvidar, sugiro uma análise fria e objetiva dos episódios mais relevantes dos últimos 10/15 dias, na certeza de que a cada cavadela sairão carradas de minhocas. É só experimentar e ver.
1 – O NOVO AEROPORTO: “TU QUOQUE BRUTUS?!”
Que dizer do ministro de tudo o que mexe no ar e de tudo o que devia mexer mas não mexe nem na terra nem no mar que, aproveitando a ausência do primeiro ministro que o reconduziu, em oposição descarada às suas diretivas, teve o desplante e o atrevimento de publicar um despacho “ad hoc” para resolver o semicentenário atraso da construção do novo aeroporto de Lisboa, atitude supina que, qual tiro de pólvora seca, como tantos outros a que já nos habituara, apenas deixou no ar um cheiro irritante a pólvora queimada, o que não passou de mais uma rábula hilariante e ridícula que, como tantas outras, lamentavelmente, só contribuiu para fragilizar e desclassificar altas figuras da classe política.
Agora, acredite-se ou não se acredite, pela quantidade astronómica de milhões de euros que estão em jogo, pelas mal disfarçadas ambições políticas subjacentes, pelos muitos e mais que evidentes interesses solapados de afirmação pessoal a médio/longo prazo de alguns atores da cena política nacional, vai ser muito difícil, se não mesmo impossível, manter por muito mais tempo o atual taticismo político, obrigando a que todos, quando chegar a hora, deixem cair as máscaras e ponham todas as cartas em cima da mesa, mandando às malvas a ilusória e hipócrita preocupação com a estabilidade política a qualquer preço.
E desengane-se quem pensa que esta clara insubordinação deste ministro foi um ato ingénuo e muito menos irrefletido.
Basta atentar no mal estar como foi recebido e na presteza como foi desvalorizado e arrumado pelo primeiro ministro, que mesmo percebendo claramente que era ele o principal alvo da intentona , nem com a sua grande experiência política e com a mestria de um ágil golpe de rins, só ao alcance dos predestinados, conseguiu evitar a sua considerável e manifesta perda de prestígio e de autoridade na chefia do seu governo, fragilidades que, para além de lhe dificultar a resolução das crises similares com que será confrontado num futuro próximo, inexoravelmente lhe trarão à lembrança a amargura manifestada pelo imperador de Roma Júlio César, quando o seu filho Bruto lhe deferiu a facada fatal:
“Também tu, meu filho Bruto?”
Quanto ao Sr. Ministro, se este nosso “sítio” ainda fosse um país a sério, porque não teve a dignidade de se demitir, muito provavelmente já teria saltado do avião sem rede e sem para quedas.
E, para além do que disse e do muito que não disse, o que pensará disto o Sr. Presidente da República?

Edição
3891

Assinaturas MDB