A opinião de ...

Costa ou Rio? PS ou PSD?

Todos sabemos que, apesar de haver 20 partidos e uma coligação candidatos às Eleições Legislativas de Janeiro de 2022, só o PS e o PSD podem aspirar a poder ter um candidato indigitado como Primeiro-Ministro. Doze nem sequer tiveram direito a participar nos debates televisivos, limitados a candidatos de grupos representados no Parlamento 2019-2021, favorecidos desde logo por esta exclusão dos outros.
Ao menos, poderiam os debates ter sido mais esclarecedores, os entrevistadores mais expertos e menos manipuladores nas questões apresentadas e os candidatos mais objetivos nos seus programas. Rui Rio e João Cotrim de Figueiredo merecem aqui os parabéns porque, do que lhes foi perguntado, disseram quase tudo.
Tivemos o espectro ideológico quase todo presente. Só faltou a Extrema-Direita porque André Ventura se demitiu dela.
Do conteúdo dos debates viu-se que há partidos que continuam iguais: CDU, BE , PS, CDS e Livre. PSD e IL sofreram uma transformação profunda: o PSD com viragem para a Social-Democracia, o IL para o liberalismo regulado. O IL representa o lado liberal do PSD enquanto o PSD disputa os eleitores social-democratas ao PS. E o PS disputa os socialistas ao Bloco de Esquerda.
Por mais que se agite o cliché da disputa entre Esquerda e Direita, estas eleições só marginalmente tratam dela envolvendo um total de putativos 20% a 25% dos votos e seis partidos (CDU, BE, Livre, PAN,IL e Chega).
A disputa entre PS e PSD é sobre duas formas de realização da Social-Democracia. Uma, a do PS, propondo mais igualdade social e mais intervenção do Estado na propriedade e gestão da Administração Pública e na regulação das relações económicas e sociais, e outra, a do PSD, propondo menos intervenção do Estado, maior intervenção do setor privado e maior equilíbrio entre igualdade e liberdade na economia e nas relações sociais.
A Administração Pública não é melhor ou pior por estar a cargo do Estado ou de privados. É melhor se for bem gerida e se o Estado controlar os objetivos e as pessoas do serviço público. É pior se o Serviço for desviado para outros fins.
A realização da Social-Democracia é a busca do equilíbrio/desequilíbrio entre igualdade e liberdade. Para o PS, deve haver 55% de igualdade e 45% de liberdade. Para o PSD, 45% de igualdade e 55% de liberdade.
O PS quer preservar as instituições do Estado e criar também espaço para a iniciativa privada. O PSD quer preservar as instituições do Estado e deixar que novas áreas de intervenção económica e social possam ter o protagonismo da iniciativa privada. Para ambos, o Estado é responsável pela orientação e pela garantia do respeito pelos direitos das pessoas e dos objetivos do serviço público ou projeto de sociedade. Não há assim tantas diferenças entre eles.
Muitos temas ficaram por abordar e a campanha eleitoral não é propícia ao esclarecimento mas à manipulação e ao insulto. Ao contrário, os debates televisivos devem ser incrementados. Pode ser que, este ano, a campanha até distraia da pandemia.

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