A opinião de ...

Em memória dos mortos, feridos, prisioneiros e abandonados de La Lys

A participação portuguesa na I Guerra Mundial é geralmente identificada com o desempenho do Corpo Expedicionário Português (CEP) nas trincheiras da frente de La Lys, em França, entre o início de Outubro de 1917 e 10 de Abril de 1918.
A participação portuguesa na Guerra, na frente europeia, era reclamada essencialmente pelos ingleses invocando a enorme dívida de que eram credores em relação a Portugal e a garantia de que Portugal defenderia melhor as Colónias ajudando os seus parceiros europeus na frente europeia. Em Portugal, a decisão de participar foi precedida de um intenso debate entre republicanos e conservadores, defendendo estes a neutralidade e aqueles a intervenção, invocando o dever de ajuda e colaboração para com os aliados da frente de guerra anti-alemã.
A verdade é que os Republicanos acabaram por decidir participar na Guerra com o argumento de Portugal poder pertencer ao Clube Europeu e à seguinte Sociedade das Nações, percursora da actual ONU. Um corpo expedicionário de 50.000 homens, dos quais 17.000 combatentes de infantaria, 5000 da artilharia e os restantes dos serviços logísticos e mecanizados, foram sendo mal preparados e mal equipados, em Inglaterra, para irem para a frente de combate na Flandres, mais propriamente, numa frente de 10 kms na localidade de La Lys. Ali, nas trincheiras frias e enlameadas, aguentaram o Inverno de 1917 para 1918, passando fome, quase sempre, sofrendo de pneumonias, e sem apoio moral de ninguém.
O comandante do CEP, o General Gomes da Costa, que tinha sido o principal opositor militar à participação na Guerra, e que viria a ser o comandante dos revoltosos contra a I República, em 28 de Maio de 1926, ia dando conta das condições miseráveis em que as tropas portuguesas se encontravam e da inevitável incapacidade para fazerem frente a qualquer inimigo organizado.
Como que ouvindo as palavras do General, os alemães atacaram, a partir das 04h15 do dia 9 de Abril de 1918, durando o combate até às 14h00 do dia 10. Os portugueses resistiram ao longo do dia 9 mas, mas, nas primeiras horas do dia 10, começaram a desistir, fugindo, uns, morrendo outros (400), rendendo-se muitos (6000) e ficando feridos uns 5000. Contudo, foi esta resistência durante um dia, crucial para as tropas inglesas se reorganizarem e susterem as alemãs. É um mérito português pouco reconhecido.
Desta guerra e desta participação, a história relata o martírio de homens bons, inocentes, mal preparados e mal equipados, às ordens de governos pouco cuidadosos. A decisão da participação na guerra é suicida mas a decisão de Sidónio Pais (finais de 1917) de retirar muitos oficiais da frente de combate é irresponsável. A fazer lembrar episódios semelhantes na Batalha de Alcácer-Quibir (1578), na Guerra das Laranjas (1808), na invasão de Goa (1961) e na Guerra Colonial (1962-1974). Mas não exclusivos de Portugal como se pode ver pelo comportamento dos espanhóis na Batalha de Aljubarrota e dos franceses na Batalha do Buçaco

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