Face ao fim da globalização, resta a esperança
Apesar das dificuldades dos tempos que vivemos, ensina-nos o Cristianismo, pelo menos o Católico, que a esperança e o diálogo devem ser os últimos a ser abandonados e/ou perdidos. Os seres humanos sempre tiveram necessidade de viver em comunidade e esta exige entendimentos, nem que sejam mínimos.
Até, 5 de Novembro de 2024, dia em que os eleitores dos Estados Unidos da América (EUA) elegeram Donald Trump e o Partido Republicano, vivíamos numa ordem mundial minimalista em que as grandes potências Estados Unidos e Rússia (esta União Soviética, antes de 1991) determinavam o que cada país podia fazer, com a China a querer, desde 1990, fazer valer os mesmos direitos, sem a protecção formal da ONU (Organização das Nações Unidas) mas com um poder real, económico e militar, que condicionava aquelas duas outras.
A partir de 20 de Janeiro de 2025, com a tomada de posse de Donald Trump, tudo parece ter mudado a pretexto de uma grave crise económica e de soberania daquele país, para a qual muitos economistas e sociólogos políticos vinham alertando desde há pelo menos 20 anos: uma moeda cada vez mais fraca, uma dívida pública cada vez mais alta, juros da dívida soberana a ultrapassar o limite do aceitável, situação resultante, em parte, do processo globalizador das economias e do comércio internacional.
Ou seja, os EUA, como principais promotores da globalização económica e financeira, desde 1995, confiantes na sua capacidade tecnológica e organizativa, foram ultrapassados no investimento, na industrialização e na balança de pagamentos em relação aos países-outros, em quase todas as áreas pela China, em muitas pela Rússia, em algumas outras pela Índia e pelo Brasil. Deste caldo crítico resultou a necessidade de proteger a economia dos EUA e relançar o investimento e o produto interno bruto. Tudo isto foi feito numa linguagem e num tom agressivos, não explicados nem fundamentados parecendo, ao contrário, que os modos pelos quais se quer perseguir estes objectivos são completamente inadequados e mal escolhidos.
O caso das tarifas alfandegárias é deveras elucidativo de uma irracionalidade estratégica (no sentido de acção pouco informada) pois não se compreende as diferenças de taxas entre países nem os fundamentos das mesmas, além de que até territórios onde só há pinguins são taxados.
A economia mundial entrará em recessão, os EUA em hiperinflação e o investimento em abrandamento pela ausência de financiamento público. Situação semelhante já aconteceu nas décadas de 20 e 30 do Século XX e o resultado foi a II Grande Guerra. Os EUA ficaram quase incólumes porque o New Deal de 1932 (Novo Acordo Social) do Presidente Franklin Roosevelt, sob a influência de John Mainard Keynes, promoveram o investimento público e as políticas sociais como forma de acelerar o investimento e o crescimento económicos.
Outro efeito óbvio desta política é o empobrecimento dos países exportadores para os EUA, com probabilidade de recessão, desemprego e deflacção. Com estas acções agressivas, os EUA «matarão» a globalização e a democratização das relações entre os diferentes Estados e isolar-se-ão do resto do Mundo.