A opinião de ...

Mensagem Papal para o dia Mundial da Paz

A Comissão Diocesana de Justiça e Paz encarregou-me de sintetizar e transmitir aos leitores de Mensageiro de Bragança o essencial da Mensagem do Papa Francisco para o 48º Dia Mundial da Paz.
A mensagem intitula-se ‘Não mais escravos, mas irmãos’ e tem uma orientação de continuidade ideológica com a do 47º Dia Mundial da Paz, de 2014, primeira mensagem do Papa Francisco para a efeméride do Um de Janeiro, dia Mundial da Paz, intitulada ‘Fraternidade, Fundamento e Caminho para a Paz’.
O Papa Francisco tem cumprido o seu pontificado sob a orientação da construção de uma sociedade com justiça e com paz pois não pode haver paz sem justiça nem justiça sem paz. Eu acrescentaria, com base nos meus estudos e investigações, que não deve haver paz sem justiça porque, quando as pessoas perderam a capacidade de se revoltar, é sinal de que já perderam a cidadania, vítimas da exclusão económica, social, cultural e religiosa.
O pano de fundo da mensagem é, portanto, a escravatura, nas suas diversas formas: económica, social, cultural, religiosa. A escravatura é um estado de alienação da pessoa, com quatro origens maiores: privação dos bens essenciais de subsistência (escravatura económica), privação das relações sociais que promovem a integração na sociedade (escravatura social), privação do acesso aos símbolos, representações e significados das relações económicas e sociais (escravatura cultural), e privação, finalmente, do acesso à relação com o sagrado e sua orientação para uma sociedade justa (escravatura religiosa).
O Papa Francisco [não digo o nosso Papa porque me dirijo a todos os cristãos e não só aos católicos, também aos que professam outras religiões e ainda aos ateus (que não acreditam em Deus, o que é uma tautologia) e aos agnósticos (que dizem que é impossível conhecer Deus e o fenómeno religioso)] escolhe o tema da escravatura porque as relações senhor-escravo se desenvolveram com cada vez mais violência nos últimos vinte e cinco anos, período do triunfo sem regras de um liberalismo económico, de relações sociais mais sofisticadas, conducentes a uma nova barbárie, que nós já definimos em outras ocasiões como uma barbárie doce, porque travestida de expressões ideológicas de adaptação voluntária às novas relações sociais de produção, de novo, como no Século XIX, alienadoras das condições e valores fundamentais de uma vida humana digna.
Esta nova escravatura manifesta-se no desemprego, no subemprego, no emprego mal remunerado, no abandono das crianças e jovens e na solidão dos idosos, no plano individual; mas manifesta-se também na guettização das comunidades étnicas minoritárias e na demissão dos responsáveis e dos cidadãos de construírem uma sociedade mais solidária mas mais exigente no plano do cumprimento dos deveres individuais para com o colectivo social, designadamente uma maior valorização do esforço e do mérito e uma maior exigência de contrapartidas sociais a quem é ajudado. Todos temos o direito de receber quando precisamos, todos temos o dever de dar conforme as nossas possibilidades.
Só numa sociedade de direitos e deveres recíprocos, só numa sociedade em que o Soberano (o legislador) impõe limites à riqueza e à pobreza, segundo regras de mérito e de solidariedade, e obriga a cumprir uns e outras, é possível ser feliz.
 

Edição
3506

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