A opinião de ...

Um problema de literacia eleitoral

Não só não temos ainda um vencedor das eleições do passado dia 10 como o vencedor pode mudar depois da Assembleia empossada. O que se passa, então?
Antes da posse, não se pode contar como votos na AD os votos no PSD/CDS, na Madeira, em virtude de se tratar de uma candidatura diferente da AD. E, faltando contabilizar os votos dos emigrantes, a contabilidade final pode variar, podendo ganhar tanto o PS como a AD. Para já, o PS está com 1.759.998 votos e 77 deputados, e a AD está com 1.758.035 votos e 76 deputados (CNE, https://www.legislativas2024.mai.gov.pt/resultados/globais, 12-03-2024), embora, depois da posse da Assembleia, a AD já possa contar com os três deputados da Madeira
Portanto, haverá que somar a cada uma das candidaturas os respectivos votos dos emigrantes e então se verá quem vence as eleições e com quantos deputados. De qualquer forma, só no dia 27 poderemos noticiar o resultado final.
Segundo alguns constitucionalistas, o Primeiro-Ministro a indigitar deve pertencer à candidatura com mais deputados eleitos. Daqui se conclui que Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro não se deviam ter declarado derrotado, o primeiro, e vencedor, o segundo, porque ambos ainda podem perder ou ganhar. E, se houver empate em deputados, o PR terá de decidir com base na votação de cada uma das candidaturas, sendo a AD prejudicada por não poder contar com os votos da Madeira.
Esta Eleição foi assim a mais renhida de sempre e a votação do vencedor a mais baixa de sempre porque nunca a terceira candidatura teve tantos votos como esta do Chega, retirando mais ou menos 500.000 votos a cada uma das duas primeiras.
Face aos resultados já conhecidos, o Chega e o Livre são os grandes vencedores. Ambos quadruplicaram as votações anteriores.
Pouco podemos dizer sobre as causas e as consequências das votações a não ser que os portugueses estão zangados com o Governo e não acreditaram na AD. Serviram-se da sua crença na democracia para combater a abstenção e fazer registar a mais baixa desde 1995 (33,77%).
O voto de protesto foi para o Chega, não só pelo protesto mas também porque as questões levantadas por este partido são pertinentes e são preocupações dos portugueses, ao contrário do que quiseram fazer crer a Esquerda e até Luís Montenegro. Ambos revelaram não saber ler as preocupações do país e não saber lidar com a diferença. Enquanto não tiver poder, o Chega crescerá. E enquanto censurarem a mensagem do Chega, este também continuará a crescer.
Estes resultados, para já, servirão apenas para eleger os deputados e o Governo mas, a manterem-se, no futuro, o PS terá perdido o centro político do país, passando tal centro para o PSD porque o PS será a Esquerda do Centro face ao quase desaparecimento do PCP e do BE. Para os socialistas, este é o maior desafio e maior perigo destas eleições.

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