A opinião de ...

Aprender a perder

A vitória mais difícil é saber perder. Numa sociedade que hipervaloriza o êxito, o triunfo (mesmo que muitas vezes conquistado à custa de princípios e valores), que divide as pessoas entre ganhadores e perdedores, tem-se visto proliferar o número de pessoas com mau perder.
Parece mesmo existir tolerância zero à frustração advinda da derrota.
Contudo, ao longo do tempo, são talvez as vezes em que se perde mais do que se ganha. Numa prova, concurso, festival, por exemplo, entre os competidores, só um acaba por vencer. Além disso, um vencedor num nível pode perder noutro, etc.
Ainda agora, como vimos na 19.ª Edição do Campeonato Mundial de Atletismo, em Budapeste, na Hungria, ou no Campeonato Mundial de Canoagem de velocidade, em Duisburg, na Alemanha, todos os competidores presentes, desportistas na verdadeira aceção da palavra, não obstante se prepararem para competir e ganhar (e não a perder...), sabem que só um poderia sair vencedor.
Assim também no futebol, em cada jogo, uns ganham e outros perdem e, no final do campeonato, só um se sagrará campeão.
Por isso, em qualquer desporto, a aprendizagem mais difícil é a de aprender a não ganhar ou aprender a perder.
Desde este ponto de vista, foi deveras edificante o exemplo dado pelos protagonistas dos campeonatos mundiais citados, ao contrário de tantas vezes que acontece, por exemplo, no futebol, principalmente em Portugal, com os ânimos acirrados e de violência verbal exacerbada, evidenciando-se desonestidades praticadas e favorecimentos e jogadas de bastidores logo desde a primeira jornada!
Sinceramente, ainda que indefetível apaixonado por futebol, custa-me ver tantos maus comportamentos, tantos insultos e até ameaças por causa da vitória.
Então, aprender a perder fará algum sentido? Pelas derrotas que acontecem, surge a ideia de que “o importante é participar”.
É deveras importante participar, mas também fazer o que estiver ao seu alcance para ganhar, sob o ponto de vista ético, de valores e princípios. E se se não ganhar, tentar melhorar e não permanecer no desalento da derrota.
Contudo, mais importante que os logros desportivos, como pudemos perceber nos testemunhos televisivos de três atletas da comitiva portuguesa do mundial de atletismo que estão ligados à medicina, a vida, não discorre principalmente entre vitórias e derrotas. Muito menos se trata de garantir triunfos face a outros.
A vida é sobretudo cooperação, interajuda e maior equilíbrio entre conquistas e fracassos, acertos e desacertos pessoais e de busca de sentido realizador.
Nesta medida, expresso a minha admiração a todas aquelas e a todos aqueles, mulheres e homens de imensa dignidade, a quem, sem nunca serem triunfadores, permanecem não vencidos. Também àqueles que, sem chegarem a destacar-se de forma notória em nada, são bons profissionais ou foram ou são ainda bons estudantes.

Edição
3950

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