Católicos e Política
No horizonte das múltiplas eleições que se avizinham, legislativas, autárquicas e presidenciais, alguns Prelados portugueses apelaram à participação dos católicos na vida política.
Trata-se de uma ideia que tende a ir mais além do habitual apelo de participação nas eleições, no ato de votar ou até de escolher os melhores candidatos e respetivos programas eleitorais!
Ela enquadra-se perfeitamente, ainda que se constitua como algo de surpreendente e novo para alguns, no que a Lumen Gentium, um dos mais importantes textos do Concílio Vaticano II da Igreja Católica, refere neste sentido, ou seja, que “os leigos são especialmente chamados a tornarem a Igreja presente e ativa naqueles locais e circunstâncias que só por meio deles ela pode ser o sal da terra”.
Em todo o caso, isso sim, traduz, hodiernamente e de acordo com os sinais dos tempos, por um lado, uma preocupação pastoral em que o mundo vasto e complicado da política, ligado umbilicalmente às realidades social e económica, como também às realidades da saúde, segurança, educação, cultura, ciência e das artes, da comunicação social, da vida internacional, etc, necessita de mais protagonistas que traduzam e concretizem valores e princípios cristãos.
Por outro lado, agrega uma certa ideia de desafio aos católicos para que se envolvam mais, participem mais no modus operandi político, como cidadãos de uma Comunidade, de um Estado, de um País, trabalhando por uma ordem mais justa na sociedade, com a sua legítima autonomia de consciência e liberdade, cooperando, com as suas ideias, a sua visão da pessoa, da história e do mundo e com as suas competências, sob as suas próprias responsabilidades, como referências fundamentais, com todos os outros cidadãos.
Importa clarificar, ainda assim, em todo o caso, que o envolvimento de todas as pessoas, de qualquer credo, condição ou opção política, é e será sempre um dever ético, a fim de, participando ativa e responsavelmente nas propostas de decisão e nas decisões atinentes a si e à comunidade onde vive, direta ou por representante eleito por si, essa atitude possa fazer a diferença para desenvolver o bem-comum.
Participar na política é ativar a nossa responsabilidade, pois é onde decidimos o futuro comum, a nível local e a nível nacional para dar uma contribuição necessária e inestimável para o país.
São várias as hipóteses, como a apresentação de ideias, sugestões e recomendações, endereçados aos partidos políticos, a análise e discussão do critério utilizado na escolha das pessoas para assumirem as lideranças, nacionais e autárquicas, a análise e discussão dos Programas eleitorais apresentados por cada partido, a participação ativa nas campanhas que se pretendem esclarecedoras e construtivas, a discussão de ideias em debates informados e já agora, o direito de exercício de voto ou de se propor à sua própria eleição.
O enquadramento principal será sempre o de se pretender fazer eco de princípios cristãos e, nessa medida, universais, não fosse o cristianismo a semente da civilização europeia ocidental, cuja referência principal é o padroeiro da Europa, S. Bento.