A opinião de ...

Moreira o fura greves

É bem provável que o envelope financeiro que o atual Orçamento de Estado destinou para as competências que pretende transferir para os municípios seja insuficiente para os encargos que as mesmas irão exigir dos cofres municipais. Também é provável que o Ministério da tutela tenha levado demasiado à letra o slogan que se tornou famoso e é usado a torto e a direito pelos autarcas segundo o qual, qualquer euro nas mãos de um Presidente de Câmara rende muito mais do que quando usado por um outro agente do poder central… como se os eleitos locais fossem ungidos por uma mágica competência, logo que são eleitos, e que lhes permite, multiplicar os poucos recursos que lhes caem na alçada. Seria esta, quiçá, uma excelente oportunidade de demonstrarem na prática o que, enfática e repetitivamente dão como provado, em teoria.
Quero crer que nem os cabedais disponibilizados pelo Governo sejam os adequados e, igualmente, não seja preciso atingir as verbas reclamados pelos autarcas que, não duvido, serão capazes de fazer bom serviço até porque, para muitos, esse feito pode constituir uma substancial alavanca para a reeleição, nos casos em que for possível e desejada. Terá de haver, obviamente, negociação e cedências, de parte a parte. Para o bem de todos. De quase todos...
O inefável Rui Moreira entendeu, que o Porto sairia mais beneficiado agindo sozinho e por conta própria e resolveu sair da Associação Nacional de Municípios. Enfraquecendo a posição da capital do Norte mas, sobretudo, fragilizando a capacidade negocial do conjunto de todas as outras câmaras, sobretudo as mais pequenas que, é sabido, apenas podem lograr vencimento das suas aspirações se tomadas e reivindicadas em conjunto. Esta falta de solidariedade de Moreira é condenável e só é comparável com a arrogância de se supor capaz de influenciar o Presidente da República levando-o a vetar o Orçamento Geral do Estado... só porque uma das centenas de disposições, analisadas, negociadas e votadas na Assembleia da República não estava alinhada com as aspirações tripeiras! Este golpe traiçoeiro do antigo Presidente da Associação Comercial do Porto não é inédito! Em 2014, se a memória não me atraiçoa, liderou a recusa do aumento de uns centavos por metro cúbico de água, nos populosos municípios do litoral, proposto pelo então Ministro do Ambiente, Jorge Moreira da Silva que seriam suficientes para otimizar as fragilizadas redes de distribuição dos seus congéneres do interior e, em 2017, a sua teimosia em fazer substituir a candidatura de Lisboa à Agência Europeia do Medicamento, por uma do Porto teve como consequência perdê-la para Amesterdão. Faz lembrar um miúdo que, quando o jogo da bola não lhe corre de feição, amua, faz birra, abandona a equipa e fica do lado de fora do campo a protestar e a querer que se altere o jogo e o resultado… só para sua satisfação.
Ora, ainda se ouviam os ecos da “justificação” para a devolução do Orçamento à Assembleia da República (Mais uma recusa? Mais um adiamento? Mais uma crise, a juntar à crise que nos caiu em cima da crise anterior?) e já o seu colega (discípulo?) da Cidade dos Estudantes, José Manuel Silva se adiantava reclamando “várias Associações Nacionais de Municípios” para, segundo ele, expressar as diferentes correntes partidárias... Será que, no PSD, ainda ninguém lhe falou da ASD (estrutura autónoma dos autarcas social democratas)?
Porque será que alguns Presidentes de Câmara estão convencidos que a simples eleição para o cargo lhes confere o dom de terem razão em tudo o que pensam e dizem?
Lamento dizer-lhes: não é verdade!

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