A opinião de ...

O que sabem da vida os Cronistas Sociais?

Na noite de sete de fevereiro, sendo antevéspera do quadragésimo aniversário de uma data relevante, para mim, fui assistir à atuação do Salvador Sobral no Centro Cultural de Belém. Um espetáculo de grande qualidade, criatividade sem chocar com o revivalismo da maioria da assistência onde o cantor recriou o genial artista belga. Salvador, sem atraiçoar a seriedade e rigor artístico original, trouxe para o palco todo o seu talento, de forma simples, descontraída e quase pueril. O vencedor do festival de Eurovisão, antes de se passear pelos corredores da plateia, de megafone na mão acompanhado de um dos músicos do septeto que trouxe consigo para o palco, gracejou, brincou, correu, pulou dando largas à sua boa disposição, quase pueril. Para lá das recordações quase cinquentenárias não pude deixar de refletir (ao que soube depois, não fui o único) sobre a catadupa de “notícias” sombrias e funestas sobre o quadro negro que se lhe desenhava por causa do grave problema de saúde que o afligiu quando foi, em boa hora, representar Portugal no palco europeu das canções. Foram dramáticas e aziagas as notícias que lhe garantiam um futuro efémero. Se recuperar não vai voltar a ser o mesmo, garantiam. Asseveravam que não teria qualquer hipótese de recuperar completamente da enfermidade que o afligia, nessa altura. Ao partilhar da enorme alegria que trouxe consigo, entusiasmando-nos, alegrando-nos, pondo-nos a bater palmas e querer saltar da cadeia para ir saltitar com ele, não é possível ignorar a dramática situação por que passaram todos os que lhe eram próximos, perante tais vaticínios. Eram de tal forma persuasores os títulos surgidos em várias publicações que abalavam as convicções mais fundadas, faziam tremer as certezas mais enraizadas. Num concurso pela atenção dos leitores, fizeram-se capas e títulos usando de forma, pelo menos infundada, a situação delicada sem qualquer respeito pelo sofrimento alheio, sem qualquer prurido em abalroar os mais básicos princípios de adesão à verdade que deveriam presidir aos que se dedicam à função de informar os outros.
Dir-se-á, em jeito de desculpa que essas “notícias” se circunscreveram a algumas revistas com um público conhecido e ávido desse tipo de sensacionalismo. Fraca desculpa essa porque se é ao público mais crédulo que se destinam, maior razão deveria haver para aumentar o cuidado e reforçar a exercício da verificação técnica e/ou independente. Porque, precisamente, quem poderia ter uma avaliação mais crítica sobre o conteúdo dessas publicações, normalmente não as lê e apenas lhes retém os títulos!
Por absurdo, quem divulga estas “notícias” em nome da importância da informação pública, igualmente amplifica e promove a crescente enxurrada de outras, populistas, insidiosas e atentatórias da verdade democrática que nos é devida.

Edição
3768

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