A opinião de ...

Os três cravos de Costa

Se há dois mil anos houvesse eleições e se se disputassem de forma livre e democrática, ninguém teria dúvida que Jesus Cristo, caso Se tivesse submetido a um sufrágio eleitoral, teria tido, no Domingo de Ramos teria tido uma vitória retumbante, com esmagadora maioria de votos de tantos quantos residiam e chegavam, por esses dias, à Cidade Santa, para as comemorações da Páscoa. É verdade que, mesmo nessa altura já havia opositores e detractores da sua Boa Nova. Nada do que Ele fez ou disse, entretanto, modificou ou alterou a Mensagem que trazia e divulgava às multidões. Porém, menos de uma semana depois, era a própria multidão que O louvara e saudara, estendendo capas no caminho, entoando cânticos em Seu louvor e erguendo ramos de palma, que, perante a pergunta de O salvar a Ele ou libertar Barrabás, pedia a soltura do salteador e a condenação do Messias. Em poucos dias Jesus foi idolatrado, humilhado, sacrificado e levado até ao Calvário carregando a Sua própria Cruz. Ali foram-Lhe espetados três grossos cravos de ferro, segurando-o ao madeiro onde haveria de expirar. Entretanto, não só a multidão o abandonou, como dentro do Seu grupo mais próximo e de maior confiança, nasceu a divisão e a falta de solidariedade. Um traiu-O, outro negou-O e a maioria afastou-se, prudentemente.

António Costa, num ritmo mais lento e mais condicente com as circunstâncias modernas, passados que foram dois mil anos, teve a sua entrada triunfal em S. Bento, no dia 30 de janeiro. Embora, tal como no início da nossa era, já houvesse (alguma) desconfiança no palácio real (presidencial) e um punhado de pregadores ocasionais ensaiassem discursos de oposição, o tempo era de glória e triunfalismo. Porém, na forja dava já entrada o ferro de onde se haveriam de extrair e afiar os cravos com que os opositores do líder socialista pretendem amarrá-lo ao madeiro da governação.
São igualmente três.
O estado do SNS e de todo o ministério da Saúde (que, muitas vezes, com razão, mas sem justificação, são confundidos, porque a ministra – que foi estrela, agora cadente – teima em cingir-se à estrutura fundamental, mas não única e nem exclusiva, da saúde portuguesas e dos portugueses) corre de forma a exasperar os enfermos que, é verdade, ainda há pouco tempo entoavam loas à estrutura nacional de cuidados de saúde mas que não aceitam ver urgências fechadas, quando mais delas precisam, haja ou não haja investimentos em equipamentos e recursos humanos.
O segundo cravo, ainda em afinação, é a galopante inflação, sobretudo a incapacidade governamental de a conter ou de a compensar, com actualizações salariais mesmo que fosse “apenas” para recuperar o poder de compra perdido, em nome do qual António Costa promoveu e alimentou a chamada geringonça.
O terceiro chega sob a forma explosiva com a bomba relógio do aumento progressivo do preço dos combustíveis e o fraco combate à crise energética que colide com a premente necessidade de descarbonização, afastando deste campo as verbas do PRR que eram, até agora, a aspirina de todos os males sociais pois o seu uso daria para reparar todas as maleitas que chegassem

Costa ainda tem tempo para começar a travar a fundição dos pregos… a menos que siga o exemplo milenar, se deixe crucificar, para subir ao céu… da União Europeia

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