A opinião de ...

A Pandemia e uma História Verdadeira (O Professor do Pungué)

Uma tarde, o jovem médico que assumira funções clínicas no município de Vila Gouveia (actual município de Catandica, em Moçambique), parou na escola do Pungué para conhecer e falar com o professor, para lhe pedir colaboração para os programas de saúde que tinha pensado implementar.
O professor, figura aparentemente frágil e tímida, mais velho do que o jovem médico, ouvia serenamente os programas que o médico desejava para a região. E lá foi conseguindo oportunidades suficientes para, modestamente, conseguir dizer aquilo que ele já estava a fazer.
Com os limitadíssimos conhecimentos de enfermagem que adquirira, construiu, montou e pôs a funcionar um pequeno “posto de medicamentos”; depois, foi dizendo ao jovem médico:
a) Organizei uma pequena farmácia hospitalar com dádivas que ia obtendo junto das missões, mas sempre olhando para a validade e formas de acondicionar os mesmos fármacos, para as doenças mais comuns; como sabe, temos várias epidemias e, por isso, temos de estar acautelados;
b) Estabeleci um sistema simplificado de registo sobre tudo o que fazia;
c) Mais tarde construí umas instalações modestas que servem de residência para um número significativo dos meus alunos, aumentando, assim, a área de cobertura da minha escola e melhorando substancialmente a assiduidade às aulas e a própria saúde das crianças.

O jovem médico ouviu, registou, prometeu ajudar no que fosse possível. Sozinho, emocionado e sensibilizado, deixou cair uma lágrima de satisfação pela candura e grandeza de alma de um grande homem rural que, com pequenos nadas e muita coragem e perseverança, conseguiu tanta coisa boa.

Texto retirado e adaptado por Paulo Cordeiro Salgado da obra “De Alma a Harry – Crónica da Democratização da Saúde” – Constantino Sakellarides, Livraria Almedina, 2006. Nota: o autor cumpria o serviço militar em 1969.

Meus Caros Leitores, esta história pode ser uma lição em forma de perguntas:
1.º O que aguça o engenho e a força de vontade face à escassez de bens, sobretudo de bens de saúde?
2.º Que formas existem de enfrentar as dificuldades – ficar à espera que as coisas caiam do céu ou agir face às dificuldades?
3.º Que maneiras temos de encarar as obras dos outros – criticando sistematicamente ou aceitando com humildade o que nos oferecem de positivo?

A cada um de nós as respostas.

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3854

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