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A luz do Sínodo dos Bispos

O Sínodo dos Bispos, sobre a família, encerrou-se no passado dia 25 de Outubro. Apesar de não ter correspondido aos que, ingenuamente, pretendiam que se reescrevesse a doutrina da Igreja Católica sobre a família e o matrimónio, este terá sido um dos acontecimentos mais relevantes, para o catolicismo, desde o Segundo Concílio do Vaticano.
Os principais responsáveis pela condução dos trabalhos do Sínodo dos Bispos procuraram baixar as expectativas, logo desde o início dos trabalhos. O cardeal Vingt-Trois disse aos jornalistas, logo no primeiro encontro: “Se viestes a Roma com a ideia de uma mudança espetacular da doutrina, regressareis desiludidos”. Contudo, “este Sínodo não se reúne para não dizer nada”, afirmou na mesma conferência de imprensa o secretário especial do Sínodo, o arcebispo Bruno Forte.
A forma como decorreram os trabalhos, e os problemas que estiveram em cima da mesa, têm permitido as mais diversas leituras. Muitas delas reduzem o Sínodo ao confronto entre duas posições antagónicas: conservadores e progressistas. Parece que a abordagem mais correta é a da existência de dois pequenos grupos mais “extremistas” e uma grande maioria ao centro, tentando esta aproximar esses dois extremos para evitar cismas e encontrar soluções o mais consensuais possível para a Igreja. Esta é a convicção de um padre sinodal, revelada pelo sítio espanhol “Religión Digital”, sem contudo referir a sua identificação.
Esse ambiente de um amplo consenso transparece no Relatório Final do Sínodo. Todos os parágrafos foram aprovados com uma maioria qualificada de dois terços. Apenas alguns mereceram uma oposição maior – e todos eles se encontram no capítulo que aborda o “acompanhamento pastoral da família”. Alguns foram rejeitados por vinte por cento dos padres sinodais. São os parágrafos dedicados às situações familiares mais complexas dos dias de hoje. É neles que se aborda, também, o problema do acolhimento à homossexualidade.
Para além desses, apenas três parágrafos estiveram muito próximos de não passarem. São os que referem a necessidade de discernir e de promover a integração dos divorciados recasados, apesar do acesso aos sacramentos nunca ter sido referido explicitamente.
Por mais que se tente dizer que neste Sínodo se abordaram muitas outras questões, foram estas, de facto, que o marcaram. E, perante elas, há pelo menos vinte por cento dos bispos que se opõem a uma mudança, como se viu.
Tal como se previa desde o início, o Sínodo não conseguiu encontrar “soluções exaustivas para todas as dificuldades e dúvidas que desafiam e ameaçam a família”, como reconheceu o Papa Francisco no encerramento dos trabalhos. Mas, mesmo assim, permitiu que fossem abordadas “sem medo e sem esconder a cabeça na areia”. Ficou claro que não haverá substanciais mudanças doutrinais, mas a linguagem e a práxis pastoral terá de se adequar às circunstâncias particularmente difíceis das famílias de hoje.
Mesmo assim, este Sínodo dos Bispos não pode ser menosprezado nem a luz que acendeu escondida debaixo do alqueire. A sua luz brilhará e certamente produzirá os seus frutos, sobretudo, para os casais que exigem uma resposta da Igreja, para as situações dramáticas que atravessam.
Está nas mãos de todos os fiéis fazer com que essa luz brilhe para toda a humanidade, em particular daqueles que têm uma maior responsabilidade na Igreja. O Papa saberá, certamente, fazê-la resplandecer, eventualmente, através de uma Exortação Apostólica.

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