A opinião de ...

Obras na Igreja [21]

Ao eletrificar a igreja peça Projeto, não chame apenas o eletricista mais “habilidoso”!
A luz natural dentro das igrejas foi sempre uma preocupação e, fez parte de uma estratégia arquitetónica. No românico a luz era coada por aberturas raras e estreitas usadas como janelas, que ofereciam segurança, penumbra, silêncio, facilitadores da partilha do sagrado. Já o Gótico exuberante nos vitrais não quiz escurecer a nave, mas glorificar a luz.
A luz elétrica veio complementar a iluminação natural no interior das igrejas, a ponto de esta especialidade técnica não se poder dispensar no projeto de arquitetura. Para Frank Loyd Righte [1867-1959] “a luz devia ser domesticada, controlada”. O “sim” à luz foi uma das grandes conquistas da arquitetura moderna. Para Le Corbusier [1887-1965], projetista da capela de Nossa Senhora das Alturas, ou Ronchamp, a arquitetura é o jogo sábio, correto e magnífico dos volumes reunidos sobre a luz. Neste santuário, do pós II guerra mundial, a luz artificial é estudada para projetar a dimenssão espiritual do interior da estrutura religiosa edificada, a variedade de modos como entra a luz produzindo a senssação de mistério.
A luz esteve sempre presente na história da Salvação. No princípio “Deus disse: “Haja luz” e, houve luz” [Gen. 1, 3]. Jesus revela-se como a luz da vida: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida”[Jo. 8,12]. A luz como metáfora, sinónimo do conhecimento, do bem, ou expressão do próprio Cristo. A Páscoa, a festa mais importante dos cristãos, tem na luz um dos seus principais símbolos, representada pelo círio pascal.
A diversidade, luz e trevas, nas igrejas ajuda o fiel a entender que o templo também nos fala, que somos peregrinos na terra, chamados a sair das trevas e viver na luz. Se num ambiente escuro colocamos um ponto de luz o nosso olhar direciona-se de imediato para lá, fenómeno que os técnicos devem ter em conta, explorando-o na arquitetura das igrejas.
Tendencialmente a iluminação das igrejas é desiquilibrada, ou plana e homogênea, ou exagerada, ou tem pontos de luz a mais, ou lâmpadas com demasiada intensidade. O equilíbrio é fundamental para que o fiel volte o seu olhar para o que realmente interessa, na celebração, ou ao entrar numa igreja, para estar consigomesmo, com Deus, ou para voltar o olhar recentrador para Cristo.
Quando remodelar o sistema elétrico da igreja, não chame apenas o eletricista mais “habilidoso”, não pense apenas nos custos, nos curto circuitos, nos fios obsoletos, nas tomadas, ou pontos de luz. Tenha a coragem de pedir um projeto de iluminação específico para cada igreja, a um técnico credenciado! Reveja a luz no seu todo: luz ambiente, luz funcional direcionada para pontos específicos, nos diferentes sítios de atuação na liturgia [ambão, altar, cadeira do presidente, cruz…], evitando um grande contraste entre presbitério e nave para que não se crie uma separação entre esses dois espaços. Ilumine o património artístico [imagens, retábulos, pinturas], objetos de catequese permanente.

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3758

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