Cruz Vermelha levou idosos ao Ensino Superior pela primeira vez
Ver coisas que nunca tinham visto. Foi este o resumo que um grupo de 13 seniores de várias aldeias do concelho de Bragança fizeram depois de terem visitado o Instituto Politécnico de Bragança pela primeira vez.
“A ideia é proporcionar-lhes um dia diferente, uma vez que eles não vêm muitas vezes a Bragança. Quando vêm, é para ir ao hospital. Mostrar a escola, fazer atividades nos laboratórios, almoço na cantina e passeio de comboio turístico”, explicava, ao início da manhã da passada quinta-feira, Tatiana Anjos, da delegação de Bragança da Cruz Vermelha e coordenadora da atividade.
A visita aos laboratórios da Escola Superior de Educação foi marcante para o grupo de 13 habitantes das aldeias de Conlelas, Carrazedo, Castrelos e Alimonde pois muitos deles não tiveram oportunidade de estudar muito para além do ensino primário pois era necessário ajudar a família nos trabalhos do campo.
“Este foi um dia valente, ‘carai’”, dizia João Pires, de Conlelas, do alto dos seus 83 anos, já depois de ter estado a olhar para um pedaço de cortiça para o microscópio. “Andei sempre toda a vida com animais”, conta, e por isso teve poucas oportunidades para estudar.
“Quando era mais nova não tive oportunidade de estudar. Os pais precisavam de ajuda no campo e trabalhei sempre.
Voltar a estudar? Agora é difícil, com 63 anos. Gostei de ver, pois nunca tinha cá entrado”, dizia Maria de Fátima dos Santos, de Carrazedo.
Também Maria José, uma madeirense de gema que foi parar à aldeia de Carrazedo pelo casamento depois de uma vida emigrada em África do Sul, lembra a falta de oportunidades durante a juventude. “Estudei até à quarta classe. Mas agora gosto muito. Há aqui muita ciência, é tudo explicado”, disse.