Dia das mentiras: “A disseminação de notícias falsas é um dos maiores perigos do século XXI”

Umas vezes brincadeiras, outras vezes servindo propósitos políticos ou comerciais. A proliferação de notícias falsas nas redes sociais, a coberto da credibilidade de órgãos de comunicação social legítimos.
Por cá, o chamado “Dia das Mentiras” ficou marcado por um incidente envolvendo o Mensageiro de Bragança.

A informação começou a ser partilhada ao final da manhã. Uma imagem tendo por base o site do Mensageiro de Bragança, jornal da diocese de Bragança-Miranda, tinha como destaque principal a imagem de um sacerdote da diocese com o título dizendo que tinha sido eleito novo bispo.

A partilha aconteceu, sobretudo, através do whatsapp, aplicação de chamadas e mensagens mas, à medida que o dia foi passando, foi sendo partilhada em cada vez mais grupos e foi como um rastilho.

Afinal, a diocese ainda não tem bispo e continua em sede vacante. Tratou-se, isso sim, de uma tentativa de brincadeira “de primeiro de abril”, perpetrada por uma pessoa próxima do sacerdote, já identificada, que pediu desculpas publicamente.

"Foi apenas com a intenção de fazer uma brincadeira, que deveria ter sido apenas interna. Inadvertidamente, foi partilhada para fora. Usei a base do Mensageiro porque é o jornal da nossa diocese, é o nosso jornal", contou o autor da montagem, que entretanto pediu desculpas públicas ao sacerdote e ao jornal.

No entanto, tendo sido utilizada a base de um órgão de comunicação social credível, a pseudo-notícia foi tomada por verdadeira por muitos, que chegaram a ligar ao sacerdote a dar os parabéns pela nomeação.

“Há mentiras que têm perna curta e outras que vão longe de mais. Sobretudo quando se põe em causa a imagem de alguém. Há questões com as quais não se deve brincar”, disse o próprio padre visado, ao Mensageiro, ainda “magoado” com o sucedido.

“Também gosto de me rir de mim próprio mas há situações com as quais não se deve brincar. O mesmo aconteceria se fosse com outro colega meu. É saudável brincar mas há coisas com as quais não se deve brincar. Não gostei. Fui eu, como poderia ter sido outro. Sinto-me bastante debilitado na minha posição e vou expô-lo a quem de direito”, confessou o sacerdote, que aproveitou a homilia de domingo, na eucaristia, para alertar para este tipo de situações que Paulo Ribeiro, diretor do jornal Alvorada e presidente da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã (AIC) considera ser um dos principais “perigos” do século XXI.

“As pessoas, face à partilha de conteúdos na internet sem a devida certificação, devem ter algum cuidado na fonte porque nem tudo o que luz é ouro. Para além da data, que é propícia a brincadeiras, muitas delas de mau gosto, estar a envolver uma pseudo-notícia de um órgão de comunicação social (OCS), mostra duas coisas. Por um lado, um OCS é, por si só, um produtor de informação fidedigna, o que leva um leitor a atestar como fidedigna o que ali lê. Por um lado, é positivo que assim seja. Por outro, é preciso acautelar a forma como a partilha é feita”, frisou, em declarações ao Mensageiro.

Paulo Ribeiro considera que “a disseminação de notícias falsas é um dos maiores perigos para a democracia no século XXI, porque leva à deformação da opinião pública baseada em informação falsa”.

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